segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Evangelho Segundo Clarice

"Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. (...). Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. (...). Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. (em silêncio)* . E a tudo isso consideramos a vitória de cada dia."
in Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

*Não porque tenha apetecido a Clarice, mas porque me apetece a mim.

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