domingo, 19 de abril de 2009

" O enigma de uma janela"


(de Magritte)
" (...)
E o que se vê de dentro para fora? Baudelaire escreveu: " je ne vois qu' infini par toutes les fenêtres": só vejo infinito por todas as janelas. Através de uma janela aberta, não se vê apenas o que está aí à frente dela. Uma janela aberta dá para o ilimitado, para o infinito. A abertura de uma janela é o mundo das possibilidades sem limite, inesgotáveis. Uma janela significa liberdade, imaginação, imaginação criadora. O homem não se define; e não se define porque não é coisa, mas pessoa, alguém, nunca feito, sempre tarefa, a fazer-se e por fazer, nunca acabado nem concluído. Por isso, nunca será possível definir o homem, um ser humano- A sua definição é não ter definição. Porque ele é abertura, interrogação. O homem é futuro, projecto, de tal modo que vive mais do irreal, do ainda não, do que do real. Assim, ser homem é esta própria pergunta: o que é ser homem? A sua indefinição, diria o filósofo Julián Marías, é o correlato finito do infinito. Só se poderá falar em natureza humana enquanto " uma natureza em expansão", pois ser homem é projectar-se para horizontes sem limites. Na sua inegável finitude, o homem é e vive para a criação - artística, poética, filosófica-, para a transcendência e o infinito.
Homem é a Janela do (In)visível."

in Religião: Opressão ou Libertação, de Anselmo Borges, Campo das Letras - Editores, S. A., 2004

1 comentário:

Marta disse...

excelente este excerto. e todo o livro, vale bem a pena!

beijo e ...
a porta está aberta,
para quando quiseres vir :)