Perante os últimos dislates vindos a público, urge repensar esta relação com uma Igreja que se apresenta plural, mas ainda hermeticamente fechada nos dogmas que engendrou ao longo dos tempos.
É possível ser repensada e reinventada? Se despojada do seu apego ao poder, poderá efectivamente encontrar um caminho mais próximo dos seus fiéis. A vertigem do controlo é grande; continuamente confrontada, no cimo do Vaticano, com a proposta "tudo isto será teu", tem cedido gulosamente ao poder prometido. O Concílio Vaticano II foi o início da recusa desse reino terreno. Agora, quarenta e poucos anos volvidos (coincidentemente com os 40 dias de Cristo no Deserto), retrocede e cede cada vez mais ao desejo de (re)querer tudo o que a vista (terrena) alcança.
"Foi contra a intenção de Jesus que a Igreja se constituiu enquanto nova sociedade composta por duas classes: hierarquia e povo, clero e leigos. Desde modo, estabeleceu-se aquele equívoco manifestado inclusivamente na linguagem corrente: sempre que alguém se refere à Igreja, entende-se a hierarquia e não o conjunto das discípulas e discípulos de Jesus. Isto é, tem-se em mente menos de um por cento da Igreja, ficam de fora mais de noventa e nove por cento.
(...).
É claro que toda a grande comunidade precisa de organização. O que na Igreja católica está em questão é se a presente constituição hierárquica é de instituição divina e, por isso, imutável. Ora, hoje, há consenso entre os especialistas em que Jesus não fundou nem quis fundar uma Igreja enquanto instituição. (...). Torna-se, pois, claro que, se Jesus não é o fundador da Igreja, embora seja o seu fundamento (...), muito menos a sua presente constituição hierárquica se pode reclamar de Jesus.
(...) A Igreja católica precisa de uma (...) constituição democrática para uma Igreja de discípulas e discípulos, sem duas classes, que ponha fim a uma das últimas monarquias absolutas do mundo, com respeito pelos direitos humanos, que consagre a igualdade de homens e mulheres, que termine com o celibato obrigatório, com uma nova atitude perante a sexualidade. Como poderá ser a Igreja católica, se se deixar orientar pelo Evangelho, por aquilo que Jesus anunciou e queria?"
O último parágrafo é fundamental; é preciso uma Igreja que se reinvente e que consagre os princípios basilares. E ter em conta o segundo mandamento da "lei" de Deus.
É possível ser repensada e reinventada? Se despojada do seu apego ao poder, poderá efectivamente encontrar um caminho mais próximo dos seus fiéis. A vertigem do controlo é grande; continuamente confrontada, no cimo do Vaticano, com a proposta "tudo isto será teu", tem cedido gulosamente ao poder prometido. O Concílio Vaticano II foi o início da recusa desse reino terreno. Agora, quarenta e poucos anos volvidos (coincidentemente com os 40 dias de Cristo no Deserto), retrocede e cede cada vez mais ao desejo de (re)querer tudo o que a vista (terrena) alcança.
"Foi contra a intenção de Jesus que a Igreja se constituiu enquanto nova sociedade composta por duas classes: hierarquia e povo, clero e leigos. Desde modo, estabeleceu-se aquele equívoco manifestado inclusivamente na linguagem corrente: sempre que alguém se refere à Igreja, entende-se a hierarquia e não o conjunto das discípulas e discípulos de Jesus. Isto é, tem-se em mente menos de um por cento da Igreja, ficam de fora mais de noventa e nove por cento.
(...).
É claro que toda a grande comunidade precisa de organização. O que na Igreja católica está em questão é se a presente constituição hierárquica é de instituição divina e, por isso, imutável. Ora, hoje, há consenso entre os especialistas em que Jesus não fundou nem quis fundar uma Igreja enquanto instituição. (...). Torna-se, pois, claro que, se Jesus não é o fundador da Igreja, embora seja o seu fundamento (...), muito menos a sua presente constituição hierárquica se pode reclamar de Jesus.
(...) A Igreja católica precisa de uma (...) constituição democrática para uma Igreja de discípulas e discípulos, sem duas classes, que ponha fim a uma das últimas monarquias absolutas do mundo, com respeito pelos direitos humanos, que consagre a igualdade de homens e mulheres, que termine com o celibato obrigatório, com uma nova atitude perante a sexualidade. Como poderá ser a Igreja católica, se se deixar orientar pelo Evangelho, por aquilo que Jesus anunciou e queria?"
Anselmo Borges, Religião: Opressão ou Libertação?
O último parágrafo é fundamental; é preciso uma Igreja que se reinvente e que consagre os princípios basilares. E ter em conta o segundo mandamento da "lei" de Deus.
8 comentários:
WOAB,
o Anselmo, tal como a Igreja, também não é dono de verdade de Jesus. Pelo menos que eu saiba, ele não tem o telefone directo para o Criador.
Assim sendo, a sua opinião vale apenas como isso, não é qualquer verdade dogmática.
Relativamente à Igreja Católica e as suas orientações espirituais e morais, não percebo qual é o problema. Pensemos no que disse Bento XVI. Teria sido melhor ele dizer o contrário, afirmando qualquer coisa como: fodei-vos uns aos outros, mas sempre de preservativo?! É este tipo de moral que queremos emanada de uma Igreja?
O Papa tem por missão a defesa o sistema ético católico. E não deve abandonar-se a facilitismos. Não será uma sexualidade mais regrada, mais humanizada, como ele defende, a melhor forma de lutar contra a SIDA?
Portanto e em jeito de conclusão, nesta questão estou inteiramente com a Igreja. Não que me oponha ao uso do preservativo, mas acho que para o combate a doenças venéreas, uma sexualidade consciente é o melhor caminho. O preservativo poderá ser mais um meio, não pode, contudo, ser sacralizado e muito menos ser defendido como único e melhor.
Mas não está bem de ver que a Igreja só sobreviveu dois mil anos precisamente por ser uma hierarquia com as suas regras rígidas?
Tomemos, por exemplo, a questão do celibato dos padres. É evidente que não é um dogma. A regra podia (teoricamente) ser alterada. Simplesmente, consentir-se no casamento dos padres abalava completamente a estrutura hierárquica da Igreja, comprometendo definitivamente a instituição. O padre - que faz um voto de obediência ao seu bispo e ao papa - passava a ter que gerir outros interesses exógenos que o poderiam levar a pôr em causa aquele dever de obediência. Se, por exemplo, o Bispo o mandasse pastorear uma aldeola perdida da sua diocese, ele teria que conciliar essa ordem com o emprego da mulher, com a escola dos filhos, com tudo o mais ligado à economia doméstica. Ficava pouco disponível para acatar servilmente a ordem e ia "meter" requerimentos a justificar a inconveniência da nova colocação. E imagine-se o problema a dobrar, se se abrisse o magistério sacerdotal à mulher ("Sr.(.ª) Bispo(a), o(a) senhor(a) está a mandar-me para Pinchões da Serra, mas eu não posso. estou grávida de três meses e o hospital de Lamego fica a duas horas por uma estrada cheia de curvas. Se eu tiver que ser assistida de urgência nunca mais lá chego").
A Igreja é sábia. E se sobreviveu 2000 anos foi, justamente, por não se deixar iludir com ideias razoáveis, mas que dariam cabo dela.
"Ora, hoje, há consenso entre os especialistas em que Jesus não fundou nem quis fundar uma Igreja enquanto instituição. "
Por este tipo de afirmação e das balelas que ele escreve periodicamente é que me pergunto se o gajo que me deu aulas é o mesmo?
Estou convencido que o Anselmo de Coimbra não proferiria estas patetices - como se o tipo fosse "o" intérprete da vontade de Jesus. Especialistas?! Quais? Em quê?
Sancho, e uma 3.ª via? Se a questão do preservativo como prevenção é-lhe polémica, para quê inventivar e doutrinar do que não é do reino dele? Repara que ele não só recusa completamente como reclama do agravamento do problema. Enfim...
Não te esqueças que reduzi o texto. Ele apresenta-os. Teólogos e estudiosos dos dogmas de fé. Mas Sancho, Também Bento não é dono da verdade. Nem tem o telefone directo para o criador.
Sim, caro Funes. A razoabilidade é perigosa.
"Igreja hermeticamente fechada nos dogmas" não é uma expressão pleonástica?
Não é suposto os dogmas serem imutáveis?
As regras e muti mais é que podem mudar. E vão mudando. Lentamente porque há por lá muita sabedoria.
RPS, corrige-me se estou errada, mas o pleonasmo não é uma figura de estilo?
Enviar um comentário