quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Em trânsito

A morte espreita em todos os quadrantes e este ano tem sido uma companheira afã dos dias gélidos. Por sua causa, desloquei-me até uma catedral da senhora, que recebia em braços mais uma companheira. Fiz-me acompanhar por alunos, que queriam prestar homenagem à pessoa que desaparecia a alguns dos seus queridos.
Esta catedral da senhora não é muito diferente das restantes; os mesmos caminhos apertados por entre os pousios de memória, cheios de gente que acompanha quem por lá ficará a partir de agora. O momento é solene, os rostos sabiamente sombrios. E depois eu, pequenina, no meio dos meus alunos, imóveis espectadores da cerimónia. Findo o ritual, as pessoas começam lentamente a movimentar-se e a cumprimentar os conhecidos. algumas realmente pungidas, outras respeitosas, as restantes preocupadas em fazer-se notadas. No meio dessa azáfama disfarçada, acerca-se de mim uma senhora, compostamente de negro que balbucia algo ao meu ouvido. Percebo qualquer coisa muito difusa; uma espécie de "para ir" e estranho que alguém me solicite informações em tão estranho sítio. As atenções dos meus alunos concentram-se no episódio; logo a mim, que mal conheço o local, pedem-me informações. Em voz baixa peço à infeliz senhora que repita o que me pede. Só então compreendo a importância da sua mensagem; por entre centenas de pessoas, aquela piedosa senhora escolhe-me a mim para constatar o que para ela é seguramente um facto: se todos queremos ir para o céu, todos teremos que passar por aqui.

People are strange when you're a stranger...

2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Bom entrar num igreja só mesmo morto ou para roubar a caixa de esmolas.

O vídeo do fim-de-semana adiantado ou não... para os lusos pátrios é sempre fim-de-semana.

Anónimo disse...

O mais estranho de tudo
é que eu ia pôr o vídeo dos The Doors - "People Are Strange".