terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ai Mr Lekker

Como gostei de ler o teu comentário à crónica do Desidério! Aqui fica parte dele, porque merece ser lido:

"(...) Mas partamos então para o que diz. Mais uma vez os seus alvos são claros. Para que não seja dito que não sou específico no meu discurso, apontarei brevemente a quem me refiro: a filosofia "continental" e o seu alvo predilecto, Jacques Derrida. Fá-lo partindo de Platão e de uma suposta aristrocacia latente na "Alegoria da Caverna". Fará sentido essa interpretação se nos cingirmos a uma leitura literal da mesma, tendo por base a biografia platónica. Como sabemos, pelo menos os que se dedicam a um estudo um pouco menos superficial de história da filosofia, Platão está bem longe de ser um democrata dos sete costados, defensor da igualdade e fraternidade universais. Portanto, obviamente, esta alegoria serve exactamente para estabelecer uma fronteira e demarcação.
Partamos contudo de um outro pressuposto. Platão seria somente mais um dos filósofos antigos de que apenas nos restou um breve sussurro. E que nada sabemos da sua biografia, convicções, princípios políticos ou outros. E, deste modo, o que nos restou foi exactamente esta alegoria despida já de toda a carga biográfica platónica e de todos os pré-conceitos anteriores. Será a leitura a mesma? Não será possível outro modo de ler, analisar e reflectir sobre o mesmo excerto? Mesmo sabendo quem é o seu autor e conhecendo sobejamente a sua biografia?
No que concerne à clareza sou totalmente incapaz de perceber de que modo a sua paródia, com um jogo de palavras (no mínimo) de gosto duvidoso, vem fortalecer a sua argumentação.
Considero também que a analogia final é bastante forçada. Comparar a cultura, segundo o aristrocata, ao mijo de cão poderá ser uma imagem forte mas jamais será um bom argumento."

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