quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Na minha fome encho-me de forças que não tenho. Eu sou Hércules." (por ouvir dizer)

Eu nunca tinha ouvido falar de Manfred Karge. Mas quero ler-lhe os textos - e guardá-los, que sou possessiva em relação aos textos guardados em livros - que raramente consigo dar .
Acabei de lhe ouvir um, nas vozes de Beatriz Batarda. E a aliança é soberba, da palavra escrita à dita, numa relação simbiótica.
Eu nunca tinha ouvido falar de Manfred Karge e apanhei-me na penumbra da sala a tentar anotar fragmentos de texto às cegas, com medo que se me escapassem (e escaparam). E claro, reconfirmei esta minha inclinação pela palavra: os pormenores cénicos escapam-se-me na catadupa do texto. Eu quero é mergulhar na palavra e no rosto daquela mulher que as diz, que as sente, que as modela com a massa do seu corpo tornado muitos.
E especialmente para o Jorge*, uma das minhas anotações (trémulas, provavelmente com termos imaginados, recontados, como geralmente acontece nestes casos):
"Opressores e oprimidos todos ao monte e aos pontapés. Quem sabe onde começam uns e acabam os outros?"
- e aqui já não sei se no plural, não sei, anotei assim, mas já tinha sido dito, já estava mais à frente no texto, o texto a ser dito e o meu ouvido a correr freneticamente atrás dele, ele a escapar-se por entre os lábios, por todo o corpo daquela mulher que enchia o palco. E a plateia, com os risinhos idiotas de coisa com graça nenhuma.
Inúteis, sussurra a determinada altura a personagem (e a actriz). Somos nós, os imprestáveis Com toda a razão. Inúteis**.

*Diz-me lá que agora é a guerra total e eu acredito e acho-te graça e aceno-te com uma tocha (ai, Prometeu, Prometeu).

**Este é também um post absolutamente inútil (como aliás quase todos os que tenho assinado por cá, com excepção dos que se reportam ao D.M.)

7 comentários:

Victor Gonçalves disse...

E que bem reproduz a atmosfera de uma peça que é fragmento do espírito que nos acusa.

Que utilidade encontro sempre nos seus textos Woman, se fosse Deus contratá-la-ia para cronista do mundo, do mais elevadamente trágico que há no mundo.

Woman Once a Bird disse...

Caro Dioniso: este texto é tão pobre tendo em conta a experiência que foi ser apanhada pelo texto e pela actriz.
Agradeço-lhe a generosidade.

Anónimo disse...

"Ai que modesta que eu sou"

Woman Once a Bird disse...

Jorge:
Imagina o Calvin a mostrar-te a língua.

Táxi Pluvioso disse...

As portuguesas são umas sortudas.

Anónimo disse...

O PND-M já tem um canal no youtube:

http://www.youtube.com/user/pndmadeiraetv

Veja a versão não censurada das intervenções de José Manuel Coelho!

Woman Once a Bird disse...

Caro anónimo:
Por cá recusamo-nos a espectáculos circenses sustentados pelo contribuinte.