domingo, 16 de novembro de 2008

Aval(iação)

Pede-me o Jorge que comente esta decisão do Governo Regional: por decreto, serei classificada como boa professora no final deste ano. Contudo, ainda que seja uma situação absurda, a verdade é que não será pior que o rumo decidido pelo Ministério da Educação, quando prevê o número de professores classificados como sendo excelentes ou muito bons e estabelece um tecto para tal.
Temos assim sucedâneos de absurdos, no reino da (des)educação. E uma proposta de avaliação que passa por uma tentativa de controlar ainda mais as escolas em prol das estatísticas e da fotografia na UE. Toda uma classe que se quer transformada em burocratas, manipuladores de papéis e estatísticas. Uma classe de funcionários públicos, numa repartição pública, a preencher formulários e a impingir produtos a vazio.
Quer-se esmagar o pouco espírito crítico que ainda resiste à petrificação de uma escola desejada para todos, mas que ainda se regula única e exclusivamente para alguns.

Escrevinho este desinspirado post em momento de pausa em relação a um processo de avaliação. Dos meus alunos. E esta é, para mim, a tarefa mais dolorosa da minha profissão - atribuir classificações a um trabalho de 90 minutos. Com todos os enviesamentos que sei que tal situação possibilita. Que aprendem realmente os meus alunos? Pior, que transmito eu, que os avalio num processo que fomenta a standartização do conhecimento?

Volto à avaliação por decreto. Por mim, podem decretar-me como quiserem; só não me exijam que avalie os meus alunos em função de números e estatísticas, que não me peçam para cegar perante programas rígidos e fórmulas feitas que apenas procuram aniquilar com a possibilidade de uma atitude mais informada e crítica. Meti-me, sem querer, numa fábrica. E agora o meu patrão quer peças exactamente iguais, a um ritmo de produção alucinante. Mecanizam-me as mãos. Por decreto ou por autismo político.

Atam-nos.*

*Docentes e alunos.

1 comentário:

Victor Gonçalves disse...

A angústia da avaliação deve ser mais intensa do que a Angústia para Jantar, ou a "Angústia da influência". Creio que bastaria, se nos quiserem muito angustiados, pedir-nos que pensássemos no que ensinamos, no que se aprende, como se avalia este processo, e para quê.

E não era preciso proletarizar-nos, é inestético e anacrónico.

Enfim, é tão difícil olhar de frente para tudo o que agora vivemos que nos podemos resguardar na boa angústia da avaliação dos nossos alunos.