sábado, 25 de outubro de 2008

Fracturante

Eis a palavra que está na base da não aprovação do casamento homossexual no parlamento português. Junto a outros argumentos que são, simplesmente, idiotas, fracturante deu azo às mais diversas perspectivas sobre o assunto.

Começando pelo parlamento, onde a bancada que apoia o governo não aprovou a dita lei por esta ser (adivinhem lá)... fracturante e, desde logo, pouco pertinente. O que eu me vou rir se, e quando, estes que lá andam estiverem na oposição e apresentarem um projecto sobre o assunto.

Na blogosfera é possível ler outros arrazoados tendo por base o mesmo conceito. Minoriza-se a questão, sem mais, porque é fracturante e ser fracturante é coisa de esquerda. Como tudo o que é proposto pela esquerda é idiota, estalinista ou sem sentido, logo... Um verdadeiro argumento sólido! Como é claro, isso de paneleirices é só coisa de pessoal de esquerda.

Por fim, basta-nos dar um salto até à Virgínia e constatar o quão idiota toda esta discussão será dentro de alguns anos.

«Permitir o casamento entre pessoas de raças diferentes significaria necessariamente a degradação do casamento convencional, uma instituição que merece admiração em vez de execração»

«Deus todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e colocou-as em continentes diferentes. E se não tivéssemos interferido com esta disposição nem sequer estaríamos agora a falar de casamento entre pessoas de raças diferentes. O facto de ter separado as raças demonstra bem que Deus não queria que as raças se misturassem».

Sentença proferida por um juiz do Estado norte-americano da Virgínia que em 1967 condenou Mildred e Richard Loving pelo «crime de casamento inter-racial»


Até lá, e como diria o outro da televisão, façam o favor de ser felizes.

9 comentários:

Blueminerva disse...

Apelidar de argumento idiota é simpatia da sua parte. Já agora, a criatura acéfala referida no "Random Precision" faz parte da Comissão de Educação (!), Cultura, Juventude e Desporto da Câmara Municipal de Oeiras.

Cumptos

Ceridwen disse...

moral da história... deus é o culpado disto tudo, ou serve de justificação para tudo.

Isobel disse...

Acho que não há argumentos nem desculpas para o facto de dois cidadãos não poderem usufruir de um direito que é de todos os cidadãos... isto devia ser a base da discussão e não andar pra cá e pra lá com essa história de Deus, que até foram os homens que inventaram. Mas, enfim, os Gatos Fedorentos estão metidos em trabalhos porque fizeram uma rábulo que ofendeu a moral católica, veja-se bem... estamos longe de ter por cá muitas mentes iluminadas.

jorge c. disse...

Estou totalmente em desacordo. Confesso até que um pouco surpreendido por algumas observações.
Em primeiro lugar lembro que num comentário a um post meu chegaste a dizer que eu estava a discutir o interlocutor e não o tema em si, que é o que estás a fazer agora.
Em segundo lugar, acho completamente despropositado comparar a discriminação racial com a discriminação sexual. É totalmente insultuoso para os povos que sofreram durante séculos por causa da cor da sua pele, comparado com uma decisão que tem que ver com questões de direito.
Aquilo que ali está é discriminação racial, é xenofobia, não é a mesma coisa.
Poderia alongar-me, ma deixa-me só dizer que a discriminação sexual existe, mas este discurso da discriminação está sobrevalorizado, porque a maior parte das vezes é um discurso de perseguição. Ou queres comparar o regime do apartheid com um país como o nosso por negar um instituto civil a quem não acha que tem legitimidade (falo em termos de direito) para tal?
Em relação às relações amorosas entre cidadãos, sejam eles de direita ou de esquerda, pessoas que admiras ou que odeias, o que fizeste em relação a Haider foi um juízo discriminatório, que mesmo feito com boas intenções nada releva para esta discussão por ser uma questão do foro íntimo e não uma decisão de organização social.

É isto que é ser fracturante.

jorge c. disse...

Só agora percebi que o post era assinado por Mr. Lekker. Peço, então desculpa, pedindo que não ligue aos ataques que eram dirigidos a miss WOAB, mantendo o resto, claro.
Essa senhora tira-me do sério.

Woman Once a Bird disse...

Miss Woab ressalva que se atente no Mr. Jorge está implicitamente a dizer: que tem uma espécie de vendetta para com esta mulher que foi pássaro. E remata chamando-me de senhora (cruzes credo abrenúncio)

Woman Once a Bird disse...

Adenda:
No que Mr. Jorge...

Mr. Lekker disse...

Beeeeeeem, o que aqui vai. Pois bem, respondamos às críticas apontadas. Em primeiro lugar, o post fala não sobre a não aprovação do casamento homossexual, per se, mas sobretudo das argumentações que sustentam tal posição. Em segundo lugar, não compreendo bem a objecção que me coloca quando diz que não se deve comparar a discriminação racial com a sexual. O que aqui é apontado é, em ambos os casos, uma questão de direito e, em ambos os casos, tendo por base exactamente a mesmíssima argumentação. Se a argumentação não era legítima para um dos casos, confesso que tenho alguma dificuldade em perceber como pode ser legítima no outro. Para além disso, o facto de um tipo de discriminação ter sido mais cruel, ou ter criado situações históricas mais marcantes (como é o do caso que aponta, o Apartheid), não significa que os segundos não constituam, do mesmo modo, uma forma de discriminação a ser eliminada. Não vejo, contudo, onde é que faço referência no meu post ao regime de Apartheid. Curiosamente, a África do Sul é actualmente um dos países do mundo onde é possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Por fim, quanto a Jorg Haider, pouco ou nada me interessa o que ele fez, com quem e/ou quantas vezes. Interessa-me contudo ressaltar a hipocrisia reinante, onde publicamente se defendem certas posições, se votam determinados diplomas legais, se formulam certos discursos pró-família e, na prática, se faz exactamente o contrário. Sei que estamos habituados a ter políticos que dizem uma coisa e fazem outra completamente diferente. Mas o facto de ser habitual não o torna menos condenável. É nesse sentido que a vivência pessoal de alguém como Jorg Haider (e também Hitler, pelo que andei a ler) se tornam relevantes.

António Conceição disse...

Estou em quase completo desacordo com o teor do post. Concordo apenas com uma coisa: daqui a 100 anos, esta questão do casamento homossexual vai parecer a toda a gente absolutamente ridícula. É que ela é uma bizantina questão semântica sem substância nenhuma.
Ignoro se daqui a 100 anos, o casamento homossexual vai ser uma banalidade que só raros historiadores sabem que não o foi no passado, ou se vai ser um pecado infame em que ninguém ousa sequer pensar.