segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Condicional (a whispered story)

Ah, se eu sabia, erraria, ah, se eu sabia, erraria. E caminharia de mãos vazias, olhos vendados, apenas a ponta dos dedos a tocar o mundo. Ah, se eu sabia, se eu sabia, erraria e não fugiria ao assustador que é prece. Ah, se eu sabia, se eu sabia, erraria e não pararia a perguntar as horas para saber que vivia; seria apenas cega do tempo, tactearia o irreal com a palma das mãos, à flor da pele. Ah, se eu sabia acordaria no desacordo, desacordaria o acordado, rasgaria contrato e tocaria o susto; abandonaria ao medo o instante. Ah, eu não sabia e se eu sabia não erraria julgando errar. Ah, se eu sabia, arderia, ah, se eu sabia, arderia.

3 comentários:

Victor Gonçalves disse...

Belo e trágico condicional (é possível que o belo seja trágico?). Ao mesmo tempo, se nos esquecermos do estilo e formos à procura do sentido, sentimos a desertificação do mundo. Haverá alguma redenção?

Blueminerva disse...

Querida WOAB, gracias pelo mail!

beijocas

Woman Once a Bird disse...

Não sei se o belo é sempre trágico, mas são dimensões que se entrecruzam e se alimentam, tenho para mim.
Quanto à procura do sentido, preferível não sentir essa desertificação. Porque essa torna-nos áridos.