Esta salganhada toda por causa do Magalhães deixa-me perplexa e uma vez mais convencida da veia essencialmente propagandística deste Executivo. Não que não considere aliciante que as famílias mais desfavorecidas tenham acesso a um tipo de instrumento que de outro modo não teriam. Ainda assim, tenho as minhas dúvidas; se tenho alunos cujos pais têm dificuldade em colcar-lhes comida na mesa, conseguirão manter uma mensalidade de acesso à internet? Por outro lado, considero perigosa a coorrelação que se estabelece entre um simples instrumento tecnológico e o suposto milagre que efectuará quanto ao sucesso escolar. Temo que os menos avisados comprem este engodo. Mas para isso não precisávamos das crianças/adolescentes (no caso do e-escolas); apenas do material, certo? Desenganem-se os crentes; a escola continua a não ser para todos. Veja-se a diferença entre uma escola sediada numa cidade e as restantes. Veja-se o equipamento escolar que continua a ser deficiente (e refiro-me às bibliotecas, às salas disponibilizadas para estudo, aos materiais que não existem nesses espaços); atente-se na quantidade e na qualidade do equipamento informático a que professores e alunos têm acesso na escola, na dificuldade em ter disponível uma sala equipada para aulas que não as de TIC. Faz-me espécie que não exista dinheiro para subsidiar o transporte dos alunos a uma exposição ou a uma biblioteca ou a uma peça de teatro na cidade mais próxima - pesquisa-se nos portáteis e vai dar ao mesmo, não é? Portanto, este entusiasmo febril em torno do equipamento informático adquirido a preços mais aliciantes interessa. E certamente será francamente mais em conta estabelecer parcerias com empresas e através de quantias modestas - mas não tão módicas quanto isso - chutar a responsabilidade de um ensino de qualidade no espaço escolar para o conforto da casa de cada um. Verdadeiros ilusionistas, estes senhores. Na escola, tudo permanece igual. Mas o burburinho dos computadores pagos a prestações toldam as vistas e ninguém vislumbra que a educação continua em pelota.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
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3 comentários:
O burburinho é tal e qual o mesmo de quando introduziram as esferográficas na escola. Os defensores do tinteiro e do aparo também clamavam que assim os putos podiam desenhar mulheres nuas sem molhar o bico. As pessoas envelhececem e morrem mas nascem sempre iguais. Ó eterno retorno! Reconfortante ninho do mesmo! Portugal tem a agravante da inteligência nunca ter passado por aqui.
Tem toda a razão, embora possa haver alguns resultados positivos, é impossível não ver nesta ficção uma espécie de rito xamânico, em que o Magalhães substitui, por exemplo, a água-ardente como objecto de fetichização da "performance" místico-religiosa do feiticeiro.
Não se pode esperar milagres da tecnologia, se não se trabalhar efectivamente para a melhoria da literacia... E a começar, pela digital!
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