terça-feira, 23 de setembro de 2008

Moral a contragosto

O Sancho, a(rqui-ini)migo de velhas e longas batalhas, mostra-se perplexo com o facto de os movimentos gays se baterem simultaneamente pelo direito à diferença, apesar de quererem "ser aceites como iguais". Tal como referi na caixa de comentários, tal questão surgiu com outras nuances em relação às mulheres, nomeadamente às reinvindicações dos movimentos feministas. Então as gajas (e os homossexuais e as lésbicas) querem ser iguais e manter as diferenças? Como é que é? Já chegamos à Madeira? Ora, a Sylviane Agacinsky, de quem tive o prazer de assistir a uma comunicação no Porto - e não consta que já tenha passado pela Madeira - responde da seguinte forma, que me parece colmatar perfeitamente as angústias de quem não quer aniquilar a diferença pela igualdade: "A diferença não é (...) o contrário da igualdade mas da identidade: duas coisas são ou idênticas ou diferentes, ainda que um objecto possa ser idêntico a outro de um certo ponto de vista e diferente de um outro ponto de vista, ou sob um outro aspecto. Assim, o homem e a mulher são diferentes por certos caracteres, e semelhantes por outros. Quanto à igualdade, opõe-se à desigualdade e não à diferença. (...). A igualdade das pessoas significa hoje a igualdade dos seus direitos civis ou políticos, e não o facto de essas mesmas pessoas serem idênticas umas às outras pela sua própria natureza ou condição."
In A Política dos Sexos
 
Pois é. Os homossexuais e as lésbicas querem mesmo o reconhecimento do direito à diferença no que diz respeito à identidade sexual (eu Sou homossexual/ eu Sou heterossexual), mas sendo considerados iguais no que diz respeito aos seus direitos civis e políticos. E parece-me bem, já que contribuem tanto quanto os restantes cuja identidade sexual não causa tanta celeuma .

9 comentários:

Unknown disse...

Muito bem, o Sancho não tem emenda e para um homem tão jovem até faz pena ser tão velho em ideias.

Sancho Gomes disse...

WOAB: reconheço a precisão dos conceitos de Agacinsky (o simplesmente é que parece não gostar do rigor dos conceitos - conforme depreendo de uma troca passada de argumentos, sobre a questão da radicalidade - mas para mim são fundamentais).
E reconheço que a minha formulação não foi rigorosa (erro que irei corrigir). No entanto, mantém-se, para mim, a pertinência da questão: alguns movimentos gays batem-se pela "identidade", relativamente aos heterossexuais.
Tomemos como exemplo o casamento entre pessoas do mesmo sexo: casamento, por definião, é a união entre pessoas de sexo oposto. A união afectiva e de facto entre pessoas do mesmo deverá ser protegida, mas não é fundamental que seja através da instituição casamento. Porque o conceito não tem de evoluir apenas devido aos caprichos de uma minoria.
Porque num casamento há um esposo e uma esposa (masculino e feminino): acho que até poderá ser ofensivo para alguns gays.Mas voltando um pouco atrás, pretendi com o meu post fazer uma espécie de denúncia da hipocrisia de alguns movimentos gays. Por isso, a interrogação.

Simplesmente: se lhe parecer velho em ideias não andar atrás das modinhas apenas porque queremos parecer modernos e arejados; reconhecer a importância das instituições para a solidez social; não partilhar de uma moral a metro descartável, o que diz acerca de mim é um elogio.
Por isso não tenha pena: alegre-se!

Sancho Gomes disse...

no primeiro parágrafo escrevi "simplesmente", quando estava a pensar em "provavelmente" (talisca). Foi um confusão de utilizadores...

Woman Once a Bird disse...

Sancho, totalmente de acordo em relação a um ponto: para uma união afectiva não é fundamental o contrato de casamento. De resto, discordamos em tudo o resto. Se socialmente se acordou estabelecer a possibilidade de um contrato referente às uniões afectivas, esse contrato deve estender-se também às uniões afectivas dos homossexuais e lésbicas. Não será o casamento celebrado entre pessoas do mesmo sexo que abalará a solidez da instituição contratual que é o casamento. Correndo o risco de parecer querer ser moderna (prefiro contemporânea) e arejada, tenho para mim que a limitação ao acesso a este contrato assenta sobre o preconceito que ainda grassa em relação às uniões homossexuais.

Woman Once a Bird disse...

O casamento, aquando da sua criação, funcionava num contexto em que a homossexualidade pertencia aos proscritos. Não esqueçamos que não muito longe dos nossos dias, a homossexualidade era condenada publicamente. Portanto, obviamente, aquando da concepção do contrato social que é o casamento, obviamente a união homossexual não terá sido contemplada. Mas é um facto que progredimos desde esse cenário, não é? Faz-me lembrar esse outro argumento para o impedimento das mulheres ao sacerdócio: aquando da sua criação (tomando a questão dos discípulos) não foi extensível às mulheres.

Woman Once a Bird disse...

Se entendermos o casamento apenas a partir do seu ponto de vista contratual - afectividades à parte (de resto, a raíz do casamento reside exactamente neste ponto) - efectivamente a questão provavelmente nem se poria. A questão é que maioritariamente, duas pessoas que contraem matrimónio não o encaram apenas como um contrato legal. É-lhe incutido um carácter valorativo a nível dos afectos - uma assunção pública de uma disposição do foro íntimo.

Táxi Pluvioso disse...

Ora, os portugueses são um povo feminino, têm ainda medo de assumir, mas com o tempo lá vai. Já faltou mais.

A guerra do Iraque contada com crianças. It's cute.

Não me esqueci dos links. Hoje não tenho tempo. Amanhã passo por cá.

Isobel disse...

O trecho que escolheste aqui é bastante esclarecedor e é importante para clarificar certas mentes mais obtusas que não entendem que o que está em causa são direitos para quem já tem os mesmos deveres que todos os restantes CIDADÃOS.
Confunde-se isto com a opinião pessoal de cada um sobre se os gays e as lésbicas devem poder unir-se em casamento e desvirtuar a instituição religiosa.
Confunde-se isto com a taxa de natalidade em crise, com a preservação da família tradicional (esquecendo todas as que não cabem nesta bacoca e antiga definição).
Enfim, soube-me bem ler este pedaço de lucidez aqui... como não poderia deixar de ser.

Unknown disse...

Para mim até podiam acabar com o casamento que tanto dava, mas do que estamos a falar é de direitos iguais para pessoas, tenham elas a orientação sexual que tiverem e acho até escandaloso que cabeças tão arejadas em muita coisa, como é o caso do S., ainda se macem a fundamentar o infundamentável...Tenha dó e admita que pode estar errado, não por não estar na "moda" mas porque há pessoas que querem ser felizes, casando!