Ao iniciar este meu escrito, já deveis saber qual o meu estado de espírito. Mea culpa. Só vos escrevo quando acometida de grave crise: seja existencial ou não.
O que me traz hoje até vós é, garantidamente, uma tragédia: sou uma gata a descoberto. Apanhada em flagrante delito - que não em flagrante delitro; esse aconteceu logo após o meu primeiro mês de existência. Saídinha do meu quartinho de República Coimbrã, ainda mal segura nas minhas quatro patas, fomos a casa de uma amiga da Woab, ali mesmo ao lado. Fugiu-me a língua para a verdade e afiambrei-me a umas garrafas vazias de cerveja que estavam debaixo da mesa da cozinha: a consciencialização da minha vergonha! A risota das observadoras! Enfim, já lá vai e deixo-me de divagações. Dizia eu que fui apanhada em flagrante delito. Não será propriamente um delito maior. É assim algo pequenino, quase um pormenor. Mas era meu. O meu passe de mágica. O mistério por desvendar.
Fui finalmente apanhada a abrir as portas. Oh desgraça! O meu truque mais recôndito, o meu segredo mais bem guardado comentado displicentemente ao almoço, entre duas garfadas e goles de água, por aquela fulana que aqui aparece uma vez por semana e acciona aspiradores e outros elementos ensurdecedores. E ela, Woab, a ouvi-la atentamente. E eu ali, desesperada para que de repente, Deus misericordioso tornasse aquela cozinha numa nova Babel; que não se entendessem; que de repente a língua se tornasse estranha e que não se descodificasse as palavras proferidas. Ou então uma surdez súbita. Ou uma amnésia temporária. Mas nada. As palavras ressoaram e já não foi possível voltar para trás: Ela - eu - abre a porta no puxador. Estica-se toda e com uma das patas pressiona o puxador da porta.
O meu truque menor já conheciam. Quando encontro uma porta mal fechada, enfio as minhas delicadas patas no fio de abertura até desprender o trinco. Mas este! Este meu truque de escancarar portas exemplarmente fechadas era do desconhecimento total. Acabou-se a magia; as entradas em pés de lã e o espanto nos olhos dos outros. Acabou-se a descrença na minha capacidade de observação e de identificação do puxador como a chave para o outro lado. Tomam-me por perspicaz, senhores. Passei de engraçada a sagaz. Um horror. Agora não vão deixar-me em paz e vão querer que rebole e apanhe paus. Não tarda nada, vão exigir que ladre e obedeça. É que ladrar ainda posso pensar no assunto. Agora obedecer...
O que me traz hoje até vós é, garantidamente, uma tragédia: sou uma gata a descoberto. Apanhada em flagrante delito - que não em flagrante delitro; esse aconteceu logo após o meu primeiro mês de existência. Saídinha do meu quartinho de República Coimbrã, ainda mal segura nas minhas quatro patas, fomos a casa de uma amiga da Woab, ali mesmo ao lado. Fugiu-me a língua para a verdade e afiambrei-me a umas garrafas vazias de cerveja que estavam debaixo da mesa da cozinha: a consciencialização da minha vergonha! A risota das observadoras! Enfim, já lá vai e deixo-me de divagações. Dizia eu que fui apanhada em flagrante delito. Não será propriamente um delito maior. É assim algo pequenino, quase um pormenor. Mas era meu. O meu passe de mágica. O mistério por desvendar.
Fui finalmente apanhada a abrir as portas. Oh desgraça! O meu truque mais recôndito, o meu segredo mais bem guardado comentado displicentemente ao almoço, entre duas garfadas e goles de água, por aquela fulana que aqui aparece uma vez por semana e acciona aspiradores e outros elementos ensurdecedores. E ela, Woab, a ouvi-la atentamente. E eu ali, desesperada para que de repente, Deus misericordioso tornasse aquela cozinha numa nova Babel; que não se entendessem; que de repente a língua se tornasse estranha e que não se descodificasse as palavras proferidas. Ou então uma surdez súbita. Ou uma amnésia temporária. Mas nada. As palavras ressoaram e já não foi possível voltar para trás: Ela - eu - abre a porta no puxador. Estica-se toda e com uma das patas pressiona o puxador da porta.
O meu truque menor já conheciam. Quando encontro uma porta mal fechada, enfio as minhas delicadas patas no fio de abertura até desprender o trinco. Mas este! Este meu truque de escancarar portas exemplarmente fechadas era do desconhecimento total. Acabou-se a magia; as entradas em pés de lã e o espanto nos olhos dos outros. Acabou-se a descrença na minha capacidade de observação e de identificação do puxador como a chave para o outro lado. Tomam-me por perspicaz, senhores. Passei de engraçada a sagaz. Um horror. Agora não vão deixar-me em paz e vão querer que rebole e apanhe paus. Não tarda nada, vão exigir que ladre e obedeça. É que ladrar ainda posso pensar no assunto. Agora obedecer...
5 comentários:
Tanto me ri com isto... o pai do Telémaco também é capaz de semelhantes façanhas (desconfio que a maior parte dos felinos - ditos - domesticados, que vivem em casas o conseguem fazer, se a isso se virem obrigados). Felizmente - para mim, que as portas cá do lugarejo são Muito difíceis de abrir (embora ele conseguisse abrir a da casa de banho e a da sala...). Aguardamos novos desenvolvimentos... deste-lhe os parabéns?
Os segrdos são para se guardarem. Quem te manda, ó Kiara, seres exibicionista com estranhos (ou quase)...
Sancho:
Não fui exibicionista. Ela é que me apanhou à traição. Uma olhadela pelas costas, a cobarde!
Ceridwen:
Sabes como sou descinfiada quantob a fulanos pretos e brancos. Esses bigodes não me enganam. Portanto, do pai de Telémaco só distância, que deve ser gato de falinhas mansas, mas unhas afiadas.
De qualquer modo, a outra ainda não me parabenizou. Temo que a vigilância seja agora mais apertada. A Grande Irmã observa-me.
Adenda:
Onde se lê descinfiada deve ler-se desconfiada.
(Ora tomem lá, que uma gata loura também sabe fazer adendas).
Repetir-me-ei, mas só textos de Miss WOAB me fazem gostar de gatos...
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