domingo, 30 de dezembro de 2007

Teu dia, ó pátria, há-de chegar!

O ANO NOVO
Bem-vindo sejas, novo ano, e tragas
Melhorando teus dias mais propícios
À minha pobre, malfadada pátria
E a meus féis amigos,
Esse mal-agoirado que nos pregos
Afundou ontem do Oceano, Apolo
Não deu senão colheita de infortúnios,
Nem granou outras messes
Mais que o joio semeado por mãos tredas
Entre os sulcos de trigo. Não mondado
A tempo, foi crescendo, e em flor ainda
Afogou a esperança
Do triste povo que a tão maus caseiros
Tão inexpertos deu suas lavoiras,
Que assim desmazelados lhas perderam,
E quem sabe quanto tempo há-de durar-lhe
O gelo deste inverno em nossos campos,
Até que o derreta o sol, ora enevoado,
Da antiga liberdade?
Dorme a vegetação nessas sementes
Que à terra se lançaram. Mas eternas
As estações não são: teu dia, ó pátria,
Teu dia há-de chegar.
(1824)
Almeida Garrett

1 comentário:

feniana disse...

bom ano, nefertiti :)