Recebo um telefonema de um número que não consta na minha lista. Corro para a varanda porque a algazarra que se faz na cozinha não me deixa ouvir a voz do objecto.
E a conversa decorre da seguinte forma:
- Sou o Paulo. Lembras-te?
- O Paulo? Mas… espera… Paulo, claro o Paulo. Já sei!!! PAULO!
- Como te lembras se já nem tens o meu número?
- Claro que me lembro! Então, és o meu vizinho, o meu querido vizinho. Há quanto tempo! Nós passámos a infância todos juntos. Tu, eu, os nossos irmãos, as minhas primas, a Carla… Bons tempos aqueles. Tenho saudades. O teu número já o tive, mas, como tive que trocar de telemóvel, perdi-o.
- Como?
- Ó Paulo, se vieres aqui, passa cá em casa. Traz a Rosa.
- Mas a Rosa… Que Rosa? Posso ir?
- Claro que sim, mas que cerimónias são essas? Isso não é para nós! E, sim, traz a tua esposa!
Hoje não venhas porque estou em casa da Carla. Vim vê-la.
- Carla? Que Carla?
- Então Paulo? A Carla irmã do Z., filha da Sr.ª C. e do Sr. J., também nossa vizinha que foi para Lisboa estudar… e, depois, ficou por lá. Veio estes dias à terra.
- Ah, acho que sei quem é. Mas espera…
- E a Sr.ª Clarinda? Como é que ela está? Ainda não a vi.
- Quem é a Sr.ª Clarinda?
- É A TUA MÃE!
- Eu não sou esse Paulo! Sou o Paulo de…
- Ok, Paulo. Desculpa, explicas depois. Que confusão! Telefona amanhã ou assim. Adeus.
(Detesto quando sou enganada!! )
11 comentários:
Eu sou Rosa, mas não sei quem é o Paulo, nem a Carla, nem Z., nem a filha da Senhora C. e do senhor J.
conheço muitas Rosas. Rosas perfumadas, vermelhas, brancas, bravas, mansas, verdadeiras, caprichosas, amigas, outras nem por isso, etc.
Paulo pensei que só conheci-o um. Meu amigo Paulo de sempre. Mas afinal havia outro, e eu sem nada saber, sorria...
Falta o complemento determinativo! fundamental. nomes há muitos e, ainda por cima, iguais.
Sou branca com raízes africanas, como todos nós de resto, preta, portanto.
Conheço poucas pessoas. Rosas, por exemplo, não conheço nenhuma, excepto a mim prápria.
Deixa-me dizer-te que o teu comentário foi tão sui generis como a espécie de texto que «postaste».
Beijinho grande, 'tá!?
Não há nada igual, só se for aquela igualdade do comum: todos diferentes, todos iguais. Tudo fluí, nada permanece.
Boas Festas!
(Mais vale tarde do que nunca)
Terá sido este Paulo?
http://pauloquerido.net/
a minha solidariedade (solidariedade não é palavra vã, como dizia o FéFé das criancinhas) para com o Paulo!
sei bem o que é isso de "oh, és tu, que és tão fixe, tão amigo, tão... ah... desculpa..."
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
óptimo esse pequeno conto do drummond. vou colocá-lo no meu blog.
Muito bom!
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