domingo, 18 de novembro de 2007

Noblesse oblige

"Mas eu sou diferente." Balbucia do alto da cegueira, sem conseguir vislumbrar o outro que murmura o mesmo. O burburinho é imenso e ninguém se entende, cada qual confinado confortavelmente na sua cabine, rodeados pelas fotografias inanimadas de feitos passados e de outros projectados. "Mas eu sou diferente", "mas eu sou diferente", repetem indiferentemente, sem ouvirem a repetição dos outros, sem reconhecerem as sílabas que compõem o ego de todos e de cada um. "Eu sou diferente.", mas sem hífen, que não gostamos de diferir realmente.

10 comentários:

r disse...

Woman tu desculpa que te pergunte, a esta hora tardia, isto é um post sobre o quê? A diferença entre o cú e as calças?

Tu estás «indiferentemente» convicta de que ninguém se entenda no burburinho?

Olha que há p'rá aí uma tal epistemologia da complexidade, que garante ser possível a organização pelo ruído. Não sei não, anda-te a escapar alguma coisa.
É como eu, escapam-me imensas. Outras vislumbro-as.

(amanhã só trabalho no gabinete caseiro, por isso, «blogo» a horas indecentes)

r disse...

Sorry.
Cu não tem acento.
Vou «linkar» o teu «post».

Anónimo disse...

sim, woman, há sempre quem julgue que é muito mais diferente que os outros. Por mim tudo bem, logo que não perturbe a minha diferença!
Agora, para os que querem evidenciar ou impingir a(s) sua(s) diferença(s), é sempre bom trazer um lápis ou uma caneta para fazermos uma cruz nas supostas originalidades. Dardos tb é boa ideia.

Anónimo disse...

rosa, não te preocupes com o acento, é um "cÚ" diferente : ) bem acentuado (brinco).

r disse...

Lápis.
Lápis e borracha.
Gosto de escrever a lápis, sempre com uma borracha ao lado, para apagar os múltiplos erros que dou, claro.
Dardo é muito violento e sou uma gaja meiguinha.

Olha, a propósito de burburinho e epistemologias da complexidade, coisa que, ainda, verdade seja dita, não abarco completamente, tomo a liberdade de deixar aqui um pensamento altamente profundo. Encontrei-o num «blog» de anedotas.

Reza assim:


Após exaustivos estudos descobriram o motivo:

«No início, Eva não queria comer a maçã.
- Come - disse a serpente - e serás como os anjos!
- Não - respondeu Eva.
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal - insistiu a víbora.
- Não!
- Serás imortal...
.- Não!
- Serás como Deus!
- Não, e não!
A serpente já estava desesperada e não sabia o que fazer para que a Eva comesse a maçã. Até que teve uma ideia. Ofereceu-lhe novamente a fruta e disse:
- Come que emagrece...»


É caso para dizer: Noblesse oblige!!

Via: http://blogdozena.blogspot.com/

Anónimo disse...

Naquela altura tb era moda ser magra? Não era diferente?
Eu pensava que as dietas eram modernices!!

P.s. gosto da ideia dos dardos. "Ai! acertaste mesmo na minha diferença!"

r disse...

Nef
isso era exactamente o que eu pensava sobre os modernismos da magreza, mas esta tarde, encontrei esta pérola que aqui deixei. Fiquei desenganada, dada a profundidade da meditação.

Agradou-me, particularmente, o desepero da serpente, ainda que dai tenha emergido uma ideia. Pronto, há sempre algo que nos escapa.
Eva que é Eva, não desepera.

Claro, por que razão achas que deixei os dardos para ti?
Eu cá não. Continuo a preferir o lápis para escrever palavras, a borracha para as apagar, o lápis, ainda, para as re-escrever.

Para acalmar a chuva e o vento, antes que se passe de alerta amarelo a alerta vermelho, um poema para a despedida (modo de expressão):


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Anónimo disse...

sim, agora a culpa é do pobre animal!

os meus erros,
para sempre ficarão.
Testemunhos que comprovarão
toda a minha progressão.
Com o tempo,
outros erros virão!!

E para acabar esta sessão,
um xi coração
e um aperto de mão.


trova de nefertoite

r disse...

Não, não, a culpa não foi do animal-serpente, pois que, tal bicho, viscoso e rastejante, não é competente de causar seja o que for a outrém; quer seja de nível material ou espiritual.

Diria que é um mero intermediário. Ora, se não foi do bicho, menos ainda da inteligente Eva, porque Eva que é Eva, age determinadamente, está por apurar o culpado.
Bem vista a coisa, é disparatado, o que acabei de escrever, porque a meditação profunda que aqui deixei não versa sobre a culpa. Ela relata a inteligência de Eva, para obter alimento, dissimulando-se 8intencionalmente) perante a acefalia do bicho-serpente.

Digo eu, mas deixo a considerações intersubjectivas.

r disse...

Nef
gostei da trova.
Beijos