quarta-feira, 21 de novembro de 2007

(Memórias) da cegueira*


Ah, mas quero ser assim: mulher, frágil. Quero que me alimentem a nozes e mel e me levem no cavalo branco e me digam suavemente não uses essa linda cabecinha laureada pelos lindos cabelos que quero só para mim.
Quero-me vazia, que é como me querem e é assim que acho que valho e me ofereço. E só assim me oferecem a maçã. Quero-me como ontem, sem pensar no hoje. Não quero conquistar. Quero ser conquistada, acenar bandeira branca e rojar-me aos pés. Afinal de contas, que fazer com a liberdade de pensamento? Prometo portar-me bem. Ergam-me novamente os muros, eu vos imploro.

(Pintura de Sarah Afonso)
*Título de Derrida, adulterado e descontextualizado

12 comentários:

Anónimo disse...

ser e parecer...
ai, mas que fado!

r disse...

Podes crer!, essas loiras-de- cabelos-compridos-frágeis-bem-comportadas, a emanarem fragilidade de sereia, plos óculos tipo mosca viscosa, só não me tiram do sério, porque sou uma gaja com muita paciência.

Fazem-me lembrar as Levinks a subirem academicamente (a tipa fez tese!) com a nódoa do fellatio. gajas burras, como dizes, cabecinha linda, mas desprovida de conteúdo pensativo: sinapses de ajoelha e reza...

Bom, no que a este assunto concerne, sou pouco ou nada tolerante. Epá, é assim, Mulher que é Mulher ascende por natureza íntrinseca. Quer dizer, cunnilinguamente (inventei agora) : osmose entre a mente (não refere o verbo: mentir), o pensamento e o cunnilingus. A luz que se lhe emana é de tal ordem que convém que a «classe inferior» trabalhe de olhos fechados.

Ilustração:

http://lesautresetlesuns.blogspot.com/

(encontrei no google)

O problema é vê-la, a partir do paradigma masculino, predominante, de resto, na sociedade em que vivemos.

Fui à página 161, mas não me interessou. Cito outra:

«[Cunnus], a partir do paradigma masculino, é um espaço paradoxal: alheado como parte física do corpo feminino, desencadeia inúmeras fantasmagorias sexuais, exaltações, desejos; presta-se-lhe homenagem ao convertê-la em objecto artístico ou mitificando-a; apalpa-se, lambe-se e cheira-se como requinte lúbrico; é temida e venerada... E também é denegrida, provocando proibições, nojos e vergonhas; é ocultada, atribuindo-se-lhe a origem de infinitas desgraças; é desacreditada, escarnecida e difamada; é vista como coisa depravada, impura e maléfica... As duas antinomias não constituem critérios separados. podem coincidir - confundir-se - ao mesmo tempo. A sua lógica é arbitrária e reversível. (...)
Essas duas lógicas - atracção versus repulsa - fundam cultura e sociedade. Cultura enquanto os mitos, a literatura ou a arte se ocupam (...)[dela]. Sociedade, ao suscitar leis, costumes, superstições, investigações mádicas ou especulações psicológicas. Todos estes discursos convertem o sexo da mulher em protagonista de uma difusa e intrincada infâmia ao moralizá-lo, canonizá-lo, estigmatizá-lo e velá-lo publicamente.»

Li algures.

Desculpa a extensão deste comentário-citação, mas o assunto é-me irresistível.

Anónimo disse...

ena ena! Rosa, parece que as mulheres loiras, bonitas e que fazem teses incomodam-te muito! não percebo por que elas têm que ser burras. Mas tu deves ter as tuas razões!
Reza a mitologia que muitos navegadores valentes, inteligentes e aventureiros eram muitas vezes comidos por belas, aparentemente frágeis e bem comportadas Sereias, pois raramente resistiam aos seus (ena) cantos. Nada podiam fazer, as pobres Sereias eram antropófagas e precisavam de se alimentar. É a natureza que dita as armas de cada um!!!

Tenho quase toda a certeza que a Woman não se referia àquilo que tu disseste. Julgo que, mais uma vez, te escapou algo!

r disse...

Nefertiti
eu sou distraída, por natureza. Distraída e lenta: levo imenso tempo a compreender as coisas.

As mulheres, sejam loiras, morenas, ou da cor que bem entenderem, a mim, não me incomodam nada. Absolutamente nada.

As mulheres, ou as pessoas em geral, que fazem teses, também não me incomodam.De todo! Eu própria já fiz uma!

O primeiro parágrafo do meu comentário anterior é, obviamente, uma metáfora, menos bem conseguida, visto que, não estabeleceu, entre nós a comunicação.

Exactamente,era de comer que falava o comentário, cuja natureza é ditada natural e culturalmente.

Mil desculpas, eu não tinha percebido que, nesta caixa de comentários, se têm que ir, necessariamente, ao encontro daquilo que os autores dos «posts» expressam pela escrita.

Juro que não sabia, pensei, dado tratar-se de um espaço público, sem aprovação de comentários, que estivesse (pela sua natureza) aberto a toda e qualquer manifestação inteligente de pensamento, indo, dessa forma, também, ao encontro, dos próprios «posts».

Navegadores e mares, gosto bastante. Ando a aprender, como sabes.

Nesta linha, só não gosto de comboios, são muito grandes, descarrilam e andam muito depressa. Sempre são melhores, as ondas do mar.

De sereias também não desgosto, desde a «Pequena Sereia» a outras,mas algumas morriam por se esquecerem de comer, passavam o tempo a cantar para encantar. Reza a história que o próprio Cristóvão Colombo as viu nas Antilhas, acontece que desacreditou os gregos, definindo-as como sendo feias e mudas.

Por causa disso, repensei. Prefiro os ursinhos (não disse: ursos): alimentam-se do mel que as abelhas produzem. As abelhas, ferram os ursinhos gulosos e é, exactamente, por isso, que devem ser cuidadosos na selecção do mel.

Já que não se pode manifestar livremente opiniões,não regresso.

kiss

Woman Once a Bird disse...

Rosa, podes e deves voltar. A caixa é aberta a todos os comentários. Tenho a certeza que ninguém quis irritar ninguém.
O post é referente a uma discussão que se tem passado no Síndromede Estocolmo, onde tenho lido loas ao uso do véu e ao modo como as relações acontecem a dois.
Kisses.

Edelweiss disse...

Mulher e frágil ao mesmo tempo? Deixa-me rir. Claro que fingir ser frágil é outra história: pode dar jeito, por muitos motivos, a começar pela sobrevivência.

Sancho Gomes disse...

WOAB,

gosto de ti assim, obediente e submissa!

Sancho Gomes disse...

Acompanhei, com natural deleite, a discussão no Síndrome. E deixa que te diga que fiquei fã da Gi. A acompanhar...

Anónimo disse...

ó rosa, isto é uma brincadeira... o texto nem é meu!
sancho, a nossa amiga é muito irónica.

Anónimo disse...

P.s: gosto muito da pintura

Woman Once a Bird disse...

Sancho:
O teu segundo comentário vai perfeitamente ao encontro do primeiro. Naturalmente.

Sancho Gomes disse...

Sabias ser irresistível! Tenho certeza que não te surpreendeu...:)