quinta-feira, 2 de agosto de 2007


"Li hoje quase duas páginas
Do livro de um poeta místico,
e ri como quem tem chorado muito.

Os poetas místicos são filósofos doentes
E os filósofos são homens doidos.

Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.

Mas as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.

É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.

Por mim escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a natureza não tem dentro;
Senão não era Natureza. "

Alberto Caeiro
Fotografia de Floria Sigismondi

1 comentário:

Anónimo disse...

gostar da natureza é isso mesmo.
as pedras, as flores, as árvores, os rios... não precisam de sentimentos nem de "entendimentos".
Excelente composição. adorei.