" A tradução, deseje-se ela "relevante", bem apropriada ou justa, é sempre uma traição uma perversão uma paixão. Uma experiência impossível.
(...), nunca uma língua se deixa transportar de todo, isto é, sem resto ou sem perda, sem desastre de percurso, para uma outra." (Fernanda Bernardo)
Pedes uma tradução. Mas, diz-me: como trair a cadência da língua com o nosso (in)poetar tosco? Como reduzir a poesia a texto explicativo? Como roubar o ritmo à palavra tornando-a tragicamente outra? É que as palavras que discorro na mente, percebo-as em mim, na inexplicabilidade do poema na língua que pedes. Como traduzir (aqui, agora, na rapidez do clique) música?
10 comentários:
Essas palavras não me são, de todo, estranhas (há quem as profira com alguma frequência...) E muito menos desprezáveis (sim, desprezáveis). Contudo, para quem não faz a mais pálida ideia do que aborda o post pode - acho - incorrer na traição do "pedido de traição". Quem me garante que não era uma anedota, por exemplo? Isso é-me mais que suficiente para compreender o porquê do "fora de questão". Agradeço teres-te dado ao trabalho de mo explicares.
Salomé, não percebo, de todo, a crispação.
Porque incomoda assim tanto a recusa de tradução/desvelamento? Porque têm que existir garantias?
Woab, a haver crispação não foi - aí sim com garantia - neste último comentário. Talvez tenha faltado o sorriso no final! Não incomoda, de forma alguma, a recusa de tradução. Somente não tinha compreendido o porquê. Agora que tiveste o cuidado de explicar, ficou tudo mais claro!
Era isso que tentava dizer no comentário anterior.
Woab,Ipsis verbis.
A mim, por acaso, incomoda-me muito a recusa de tradução. Seria negar a arte como forma de chegar ao outro. E é verdade que há quem ache que a arte não é isso, ou não é sobretudo isso, e que é mais importante a parte da auto-descoberta. O que também é complicado: como auto-descobrir-se sem o fazer relativamente / em relação com, sendo para isso necessário alguma disponibilidade para a linguagem em comum?
São só divagações e achegas. Que não me tiram o interesse pelo vosso blogue. Bom trabalho.
Cara Dama:
Em primeiro lugar, bem vinda. Parece-me ser o teu primeiro comentário por cá.
Em relação à traição da tradução... concordo que existe a necessidade. Mas não deixa de ser uma reinvenção do texto. E, como tal, há que estar preparado para reinventar, para lhe atribuir a cadência certa, para que a tradução não seja tão bélica em relação ao texto original. Ora, nem eu, nem certamente a Nefertiti, nos sentimos suficientemente à vontade para o ousar. Por isso falava na inexplicabilidade do poema (que no caso é música). no máximo, seria uma tradução explicativa, sem brio e, portanto, desajustada e injusta.
Pois é, tens razão, com muita pena minha. Não tinha percebido que o post remetia para uma letra de canção. São talvez os casos mais bicudos, porque as palavras traduzidas não entram na música que trazemos na cabeça. Na verdade, ainda pensei deitar mãos ao vosso Tiersen. Mas depois lembrei-me que tinha jurado para nunca mais no dia em que tentei o "Perfect Day" do Lou Reed ("oh, que dia tão perfeito / ainda bem que o passei contigo"... safa!)
Só para acrescentar que a tradução e o multilinguismo também dão boas letras de canções. Ouça-se o Caetano Veloso.
Gostei muito das palavras da Dama! Gosto imenso de Caetano Veloso e Lou Reed e sou pelas traduções... ainda bem que há tradutores... No caso da canção de Tiersen... foi porque realmente não me apeteceu! Não achei necessidade... foi dedicado a alguém e num contexto... Lamento tanta polémica. Desculpem.
Minha linda, não tens de pedir desculpa de nada. Este espaço é tanto teu como meu e tens todo o direito de fazer (ou não) o que entenderes. Quanto à polémica (ou falta dela) faz parte destas coisas. Tudo passa.
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