Aos 24 anos, Monica Lewinsky foi o dano colateral da tentativa de derrubar Bill Clinton, então Presidente dos EUA. Este artigo do The Guardian é muito interessante porque apresenta-nos o ponto de vista da jovem que foi apanhada no turbilhão da luta pelo poder em que tudo vale. Ela foi - continua a ser - queimada na praça pública por algo que diz respeito apenas às três pessoas envolvidas.Este artigo fala-nos de bullying, e mais concretamente de slut-shaming (que diz respeito à condenação social de de mulheres e meninas pela assunção de um comportamento sexual que contraria as normas sociais, condenação que não é aplicada aos homens e jovens rapazes, bem pelo contrário). Na altura, isto aconteceu também da parte de algumas feministas, como Lewinsky refere*: «It was very scary and very confusing to be a young woman thrust on to the world stage and not belonging to any group. I didn't belong to anybody.»
Neste processo há uma despossessão da identidade das mulheres para reduzi-las apenas à condenação de um comportamento que só a elas deveria dizer respeito: «Overnight, I went from being a completely private figure to a publicly humiliated one worldwide. Granted, it was before social media, but people could still comment online, email stories, and, of course, email cruel jokes. I was branded as a tramp, tart, slut, whore, bimbo, and, of course, ‘that woman’.» Não surpreende, portanto, pensar que quem se vê desta forma despojada da sua identidade, pondere alternativas mais radicais. Uma das partes que considero mais interessantes neste artigo é quando Monica diz que quem se suicida não procura propriamente o fim de tudo, mas uma espécie de reset, poder começar tudo de novo, apagar aquela parte (da vida) que se tornou insuportável. Passou-lhe pela cabeça. Claro que sim.
Então como declinar a objetificação e reivindicar uma identidade que seja sua?
Neste processo há uma despossessão da identidade das mulheres para reduzi-las apenas à condenação de um comportamento que só a elas deveria dizer respeito: «Overnight, I went from being a completely private figure to a publicly humiliated one worldwide. Granted, it was before social media, but people could still comment online, email stories, and, of course, email cruel jokes. I was branded as a tramp, tart, slut, whore, bimbo, and, of course, ‘that woman’.» Não surpreende, portanto, pensar que quem se vê desta forma despojada da sua identidade, pondere alternativas mais radicais. Uma das partes que considero mais interessantes neste artigo é quando Monica diz que quem se suicida não procura propriamente o fim de tudo, mas uma espécie de reset, poder começar tudo de novo, apagar aquela parte (da vida) que se tornou insuportável. Passou-lhe pela cabeça. Claro que sim.
Então como declinar a objetificação e reivindicar uma identidade que seja sua?
«(...)Sandra Jovchelovitch. "She said to me, 'Whenever power is involved, there always has to be a competing narrative. And you have no narrative.' It was true. I had mistankenly thought that if I retreated from public life the narrative would dissipate. But instead it ran away from me even more." That's when Lewinsky realised she had to do something to de-objectify herself.»
É preciso recuperar (um)a voz, falar-mulher: é preciso que as mulheres (se) escrevam (Hélène Cixous), é preciso que as mulheres (se) falem (Luce Irigaray). Recuperar o poder é reivindicar uma voz, o direito à sua história, isto é, o direito ao seu corpo, à sua escolha, à sua palavra.
*E exaustivamente é preciso lembrar, não existe um feminismo, existem vários, que coexistem, debatem diferentes horizontes e posicionamentos teóricos.