segunda-feira, 23 de abril de 2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Boa Semana

No Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, um coletivo de juízes (com, se não estou em erro, duas juízas) votou pela descriminalização do aborto de fetos anencéfalos. A partir de agora, as mulheres brasileiras, grávidas de fetos sem cérebro, poderão interromper a gravidez sem passar pelo calvário da autorização judicial. Parece que, finalmente, este coletivo percebeu que se trata de uma questão médica, que exige pareceres de médicos e não uma questão criminal, a qual exige pareceres de juízes. A lei brasileira é muito restritiva no que se refere à IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) e a discussão foi acesa. Pelos vistos, há 'uma vida' quando se fala de fetos anencéfalos, e parece-me que não é à vida da grávida que se referem.

O vídeo conta a história de Severina, mulher, agricultora, pobre, grávida de um feto sem cérebro, o qual não sente «mexer». Severina obteve autorização para interromper a gravidez, mas esta chegou tarde. Ela já teria que ter um parto e não mais um aborto. A sua barriga cresceu, o seu corpo sofreu todas as alterações hormonais e sequelas da gravidez, ouviu as perguntas: «é menino ou menina? ou «como se vai chamar?» inúmeras vezes, mas ela não deu à luz um bebé, ela deu à luz um cadáver. Esta semana, o SFT, deu às mulheres brasileiras, a oportunidade de poder decidir se querem passar por todo este sofrimento.



Enquanto isso, dos EUA, vêm notícias que vão no sentido oposto. Há propostas para obrigar as mulheres grávidas de fetos inviáveis a manter a gravidez até que o parto os separe.....o argumento é o de que as galinhas e as vacas também levam as gravidez até ao fim. Bom, mas não seja por isso; se vamos começar a tomar decisões legais baseando-nos unicamente no comportamento animal, proponho já lembrar a estas criaturas que há exemplos na natureza em que, após a cópula, algumas fêmeas - para assegurar a sobrevivência do feto - se alimentam do macho (suponho que isto sirva de justificação para descriminalizar o homicídio do parceiro sexual após o coito, pelo menos no caso das mulheres sem recursos económicos, não?). E considerando que  há galinhas e vacas (entre muitos outros animais) que matam as crias com menores possibilidades de sobrevivência, parece-me que o paralelo tem alguns perigos. Têm mesmo a certeza que querem ir por aí? É que quando Alberto Giubilini e Francesca Minerva publicaram numa revista da especialidade (Ética Médica), um artigo que discutia o infanticídio, alegando que os fetos e os bebés não «possuem o mesmo estatuto moral que as pessoas», choveram ameaças de morte aos autores.  Ah, espera, acabo de me lembrar que para este tipo de gente, só as suas comparações são válidas. As dos outros, ainda que sigam a mesma linha de raciocínio, não servem.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Felicidade, Eternidade e Férias Grandes, segundo José Eduardo Agualusa


Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, 'e foram felizes para sempre'.
Isto depois de o Princípe casar com a Princesa e terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As princesas casam com os guarda-costas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, inevitavelmente, morrem. 
Apenas somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo dilatado no qual todas as coisas duram eternamente. Eu fui feliz para sempre em alguns breves instantes da minha infância, sobretudo nas férias grandes, enquanto tentava construir uma cabana suspensa nos troncos de um velho abacateiro. Fui feliz para sempre nas margens de um riacho tão humilde que dispensava o luxo de um nome, embora orgulhoso o suficiente para que o achássemos mais do que simples riacho - era o rio. (...) Fui feliz com o meu cão, o 'Moreno', fomos os dois felizes para sempre, correndo como loucos por entre a poeira dourada das tardes perpétuas, perseguindo rolas e coelhos, jogando às escondidas em meio do capim alto. Fui feliz no convés do 'Princípe Perfeito', numa viagem sem fim entre Luanda e Lisboa, lançando ao mar garrafas com mensagens ingénuas: 'A quem encontrar esta garrafa agradeço que me escreva'. Nunca ninguém me escreveu.
Nas aulas de catequese, um velho padre de voz sumida e olhar cansado tentou, sem convicção, explicar-me em que consistia a eternidade. Eu achava que era um outro nome para as férias grandes. (...)

Letters to Dead People
É isto a eternidade, senhor padre, é isto que perdemos depois que nos expulsam da infância. Passamos o resto das nossas vidas a tentar, desastradamente, regressar a este tempo. Tenho andado à procura de garrafas, com mensagens ingénuas lá dentro, em todas as praias do mundo. Não vale a pena. Nunca mais seremos felizes para sempre. Nunca mais teremos férias grandes. As mais belas estórias são aquelas que começam no fim e terminam no princípio. E depois, papá, que aconteceu depois? E depois, meu filho, o menino fez sete anos, ofereceram-lhe um cão chamado 'Moreno' e foram felizes para sempre.

José Eduardo Agualusa, 2002

Entre as vantagens de olhar para trás - atrás no tempo - estão as descobertas que não fizemos na altura. Passados dez anos, encontrei uma das garrafas que a criança Agualusa atirou ao mar. Apenas falta escrever-lhe.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Madeira 1997

E ninguém acha estranho que um filme de 1997 volte em força às salas de cinema de uma terra, salas essas que se dão ao luxo de deixar passar estreias a sério com a desculpa de que o público alvo é todo burrinho e pipoqueiro?