Barbara Kruger |
Esta crónica
do Pedro Rosa Mendes está no centro de um caso no qual alguns (só más línguas, como sabemos) vêem a mão da censura política. Aparentemente, alguém - ou quiçá, muita gente - do governo e arredores, não terá gostado das palavras do cronista e - à boa maneira portuguesa (ai, Ceridwen, tu e a tua mania de hiperbolizar e de fugir ao rigor) - terá mandado acabar com o programa (mas isto é o que dizem as más línguas, porque a matéria de facto é que os contratos dos cronistas - eram quatro - terminavam no final deste mês).
A história remete para um episódio recente do programa Prós & Contras, que terá sido emitido de Angola, com o objectivo de promover um reencontro entre aquele país africano e Portugal. Rosa Mendes terá visto na emissão um «dos mais nauseantes e grosseiros exercícios de propaganda e mistificação a que alguma vez» assistiu.
O repórter (que já respondeu em tribunal por difamação - o ofendido era o sr. santos, presidente da República de Angola - processo do qual saiu inocente) descreve o reencontro televisivo como um desfile de «responsáveis políticos, empresários, comentadores de Portugal e de Angola, entre alguns palhaços ricos e figuras grotescas do folclore local.(...)»
Na mesma crónica, o repórter critica abertamente a RTP «O serviço público de televisão tem estômago para muito, alguns dirão que tem estômago para tudo», bem como a quase total ausência de referência à corrupção em Angola (segundo Mendes, a apresentadora questionou «a medo» um dos intervenientes acerca de um "certo tipo de corrupção").
O jornalista afirma ainda que encontrou no programa «não o país, mas a falta de vergonha de uma elite que sabe o poder que tem e o exibe em cada palavra que diz».
Não tendo assistido ao Prós & Contras a que Pedro Rosa se refere e apenas ouvindo a sua crónica, percebo perfeitamente que haja quem não tenha gostado de ouvir o repórter mencionando a realidade gritante angolana: a extrema desigualdade que assola o país onde um punhado tudo controla e a corrupção é a 'law in action'. Mas Mendes não termina por aqui, e transforma a peregrinação de portugues@s para Angola numa fuga - na fuga a um Portugal perdido.
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