Há dias que o céu não nos deixa em paz, num lamento constante, ritmado pela lentidão ou por vezes (felizmente só por vezes) violentamente zangado. Não há grande diferença entre o dia e a noite, a não ser no que diz respeito ao conforto de sentir-lhe a zanga lá fora, longe do nosso quarto.
Não percebo este céu por cima de nós; há dois meses e meio que entro sistematicamente em salas abafadas, apinhadas de adolescentes que transpiram tanto ou mais do que eu.
Não nos chega frio, apenas a água que escorre dos nossos corpos acalorados, o esforço de pensar com os pingos de suor a caírem o mais discretamente possível (acreditamos nós). As gargantas secas e os poros a trabalhar freneticamente, a reclamar o espaço do outro que está mesmo ali, quase colado, com o bafo quente a queimar-nos as orelhas.
As salas de aula são lugares terríveis, em dias como os que temos tido. E por vezes, a tristeza do céu rouba-nos o espaço lá fora, nos intervalos, quando poderíamos respirar mais livremente por escassos minutos. Uma tristeza quente, sempre quente, sem esperança.
Há dias que chove e finalmente começa a ser uma chuva que anuncia o frio. Pelo menos já se respira outra vez.
*Título inspirado num título de Steinbeck.
2 comentários:
Não sei se é por isso...a tristeza!
Mas depois dirá, se com o frio os sentiu melhores.
~CC~
Confesso que os conteúdos também têm ajudado, mas realmente tenho-os/as sentido mais entusiasmados/as.
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