Confesso alguma perplexidade perante inúmeros juízos de valor que, aqui e ali, se ouvem.
Desde que o País está em crise (e não recordo o seu início, o que contraria desde logo o conceito de crise) que arribam vozes que, num estilo declamado e geralmente pomposo, apontam o dedo aos(às) portugueses(as) em crise e que insistem em esbanjar dinheiro. Perante tão escaldante denúncia, as possibilidades não são muitas: os(as) juízes(as) tão profícuos(as) em juízos de valor não são portugueses(as).
Muitas vezes sustentam a tese de que os(as) portugueses(as) não sabem poupar porque, nas suas saídas de estrangeiros(as) que não estão em crise, puderam constatar que os(as) outros(as), que são todos(as) portugueses(as), também lá estavam: a jantar, os(as) incontidos(as). A esbanjar dinheiro em concertos, os(as) mãos-largas. A encher supermercados, os(as) comilões(comilonas). A comprar roupas e sapatos e malas, as grandes porcas (já sabemos que esta acusação por norma só é declinada no feminino). Claro que no caso específico do(da) observador(a) comentador(a) nada destes comportamentos viciosos, porque apesar de os ter, já sabemos que não faz parte dessa enorme massa que são os portugueses em crise. Os portugueses em crise são sempre os(as) outros(as).
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