sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"A linguagem administrativa é a minha única língua"*

"Reduzir-se-ão todas as relações humanas aos cálculos de prejuízos e de interesses, e todos os problemas à liquidação de contas?"
Lévinas, citado por Chaterine Chalier em Lévinas, a Utopia do Humano


A Comissária Europeia Vivien Reding pronunciou-se sobre a expulsão dos ciganos ordenada pelo governo de Sarkozy e o Eliseu declarou-se profundamente ofendido, apesar das suas  pretensões xenófobas, com as palavras da comissária. Durão Barroso secundou e bem a Comissária.
Por cá, a música é outra. E dos dois principais partidos (o CDS não conta, nem surpreende) temos  vetos a moções de censura à política de Sarkozy e juras de compreensão e clarificação de intenções do mesmo apresentadas por JS e PPC.

O pormenor que parece escapar aos meninos maravilha é a de que a França de Sarkozy (e que não é dele) não expulsa "apenas" os imigrantes ilegais no País. Sarkozy ordena que a prioridade seja dada aos ciganos.  E é esta a diferença fundamental que torna esta uma questão de xenofobia e não apenas questão de segurança, bandeira que é sempre acenada quando alguns Estados pretendem usar de metodologias pouco recomendáveis, em claro choque com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O assentimento que ambos, o efectivo e o aspirante a Primeiro Ministro,  fizeram questão de dar ao seu colega francês apenas esclarece que partilham de uma mesma dificuldade: pensar do ponto de vista do outro. É difícil para esta gente, mas é muito é perigoso para todos nós. Porque é preciso aprender com o que já fomos capazes de fazer, porque não podemos permitir que no seio desta Europa que acreditávamos muito distante da outra, voltemos a expulsar pessoas em função da sua etnia. Porque é preciso, de forma clara e inequívoca esclarecer estes burocratazinhos que nos governam ou que aspiram a governar, que os seus ares graves de estadistas não  nos enganam quanto à pequenez da sua capacidade de entender o Outro como digno de respeito.

*Eichmann, um bom funcionário, citado por Hannah Arendt em Eichmann Em Jerusalém - Uma Reportagem Sobre a Banalidade do Mal.

3 comentários:

Anónimo disse...

Independentemente dos partidos a que as pessoas pertencem, houve manifestações contra essa medida bárbara.
Num estado democrático isso não faz sentido nenhum, é um verdadeiro disparate. É uma piada de mau gosto.
Quem se diz democrático, não pode de forma alguma concordar com a expulsão de pessoas!
Então agora resolvem-se assim os problemas sociais? Qualquer dia voltamos aos campos de concentração, e aí tínhamos outra piada de mau gosto. Enfim, há cada louco nesta vida.
Helena

Anónimo disse...

O que retirei desse debate é que esses partidos vão esperar pelo julgamento das autoridades europeias , antes de fazer um julgamento que depois se pode vir a perceber que foi precipitado e que não corresponde ás ilegalidades que são ditas em países diferentes de onde este acontecimento teve lugar , tendo por base pequenas noticias que não nos deixam perceber na sua totalidade o que possa ter acontecido ! Já agora dizer que uma deportação de umas centenas de pessoas é o 1º passo para voltarmos a ter campos de concentração, o que tenho visto escrito em muitos lugares , parece-me um disparate devido ao seu exagero , e principalmente um desrespeito imenso pelas imensas vitimas do nazismo , incluindo uns largos milhares de ciganos !
Jacinto Gouveia

Anónimo disse...

Exagero!? pois sim... Devem ser tiques de quem gosta de ler História.
As tendências políticas actuais são tudo menos democráticas. Mas se acha que há exageros em fazer comparações, fico mais aliviada.

Helena