A terminar o mês de Agosto, as praias começam a ser abandonadas pelos/as banhistas que suspiram secretamente de alívio pelo facto de Setembro anunciar um regresso à normalidade (muito sol também cansa)*. Faço parte desse número de banhistas de regresso a casa, com a caixa de correio repleta de correspondência mais ou menos endereçada, pouco ou nada pessoal. A revista Visão da semana transacta jaz à espera de ser lida, nem que seja de soslaio (os últimos números não merecem mais do que isso).
Logo a abrir, António Araújo ensaia as boas e más notícias da semana; a inaugurar as más, aponta os hábitos de leitura. E a partir daqui divergimos na "análise". Segundo o jurista e historiador, os/as portugueses/as não têm hábitos de leitura e revelam-no nas praias, em que se dividem entre os jornais desportivos e as revistas do coração**.
Concordo com a falta de hábitos de leitura; contudo, considero que a praia não será o melhor sítio para aferir o que quer que seja. Por mim falo. Gosto dos meus livros limpos, com as páginas apenas maculadas pelas minhas anotações e não com nódoas de protectores solares, gosto dos meus livros sem páginas dobradas, sem badanas destruídas pelo uso indevido, sem manchas de humidade a deformar-lhes o texto. Não consigo levar livros para a praia, conspurcá-los com areia a rodos (quando há areia), sal e afins. O objecto livro é ainda para mim um objecto sagrado, que não combina com gelados à beira-mar e com um sol abrasador a encegueirar-me a leitura.
*Esta Woab que vos escreve, que nem é uma banhista a sério, este ano foi a banhos a um ritmo que lhe é anormal, tendo inclusive ganho uma cor que lhe é inusitada: parece menos transparente no que à pele diz respeito e uma abominável cor de cabelo a roçar o louro. A voltar ao normal nos próximos dias.
**Quanto a mim, existem três locais perfeitos para a leitura de revistas do coração: cabeleireiros, consultórios médicos e praias. Nos dois primeiros casos, regressam à proveniência (nem as pagamos, de resto, constituindo esta uma grande mais valia). No que às praias diz respeito, geralmente estas têm, à saída, inúmeros caixotes do lixo em que podemos desfazermo-nos do objecto. É mesmo só para quando se apanha sol na moleirinha, corpo envolto em protector, água e sal.
Quanto aos jornais desportivos, não vislumbro nenhum local em que estes possam desenvolver em mim qualquer interesse.Já basta termos a maior parte dos serviços de informação a dedicar-lhes a maior parte do horário nobre.
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