quarta-feira, 28 de abril de 2010

"(...) Sempre achei algo de muito estranho o facto de eu escrever em português, mas foi nessa língua que eu nasci, e só nas palavras dessa língua irrompem os meus textos. É estranho porque, no interior dessa língua, não havia uma cultura para os receber. Certamente havia, e há ainda, um passado por acabar, soterrado, que os chamava para que um ciclo, por fim, atinja o seu termo. Faço votos para que a minha língua alcance o alto mar, o largo. Ela fala de um povo que é singularmente outro, sem saber em quê, e porquê. Faço votos ardentes para que esse sentimento profundo, e por exprimir, se possa manifestar finalmente. Por este motivo me pareceu que eu renegaria tudo isso - esse povo, essa história, essa área geográfica, esse sentimento, essa língua - se não tivesse aceite estar aqui presente.
É também por este motivo que posso agora voltar a entrar no meu silêncio. Silêncio para que nasci."
Maria Gabriela Llansol Paris, Sorbonne, 24 de Outubro de 1988, Les Belles Etrangères.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei do excerto.