domingo, 10 de janeiro de 2010

Por que razão não caem os céus?

Que fazer quando queremos escrever sobre algo e as palavras não são generosas connosco? Com frequência cada vez maior sou apenas tomada pelo assombro das experiências e sobre elas pouco consigo verbalizar. Emudecida. Pior - desapalavrada (permitam-me a liberdade, mas se me escapam posso também traí-las). Tudo isto porque queria aqui deixar algo em defesa de Ágora, que fui ver ontem, e não encontro a forma de o fazer. É que é difícil  não calar o aperto que senti ao ver estantes substituídas por estábulos, gente estrangulada por (em nome de) deus ; que me entendam, refiro-me àquele momento específico em que  queremos chorar copiosamente, soltar a angústia estrangulada na garganta e nada sobrevém a não ser uma tímida lágrima (ou duas) discretamente limpa na abençoada escuridão.
E naquela sala evoquei não só Hipátia (de que quase nada é sabido), mas também Sócrates, Tomás Morus, Tomás Campanella, Giordano Bruno, Galileu, Espinoza, Olympe de Gouges, Simone Weil e tantos/as outros/as que tiveram a coragem que a maior parte de nós, em circunstâncias semelhantes, seríamos incapazes de ter.

E agora, como então, com aflitiva persistência se ouve a secular e perigosa pergunta: afinal de contas, para que serve o conhecimento se não tiver utilidade imediata?

1 comentário:

Hipatia disse...

:)

Estas palavras bastaram para gostar muito do seu comentário ao filme. Tenho-os lido muito minuciosos - quase todos torcionários - mas nenhum tão sentido.