E gostaria de trazer novamente à baila um post redigido e publicado por Mr. Lekker, em finais de 2008. Ainda que o seu vaticínio não seja total, na verdade, na essência, acontece hoje. Temos pena que só agora se resolva a questão e que, ainda assim, apenas se resolva metade (a acreditar que será a proposta do PS a ser aprovada):
"FRACTURANTE
Eis a palavra que está na base da não aprovação do casamento homossexual no parlamento português. Junto a outros argumentos que são, simplesmente, idiotas, fracturante deu azo às mais diversas perspectivas sobre o assunto.
Começando pelo parlamento, onde a bancada que apoia o governo não aprovou a dita lei por esta ser (adivinhem lá)... fracturante e, desde logo, pouco pertinente. O que eu me vou rir se, e quando, estes que lá andam estiverem na oposição e apresentarem um projecto sobre o assunto.
Na blogosfera é possível ler outros arrazoados tendo por base o mesmo conceito. Minoriza-se a questão, sem mais, porque é fracturante e ser fracturante é coisa de esquerda. Como tudo o que é proposto pela esquerda é idiota, estalinista ou sem sentido, logo... Um verdadeiro argumento sólido! Como é claro, isso de paneleirices é só coisa de pessoal de esquerda.
Na blogosfera é possível ler outros arrazoados tendo por base o mesmo conceito. Minoriza-se a questão, sem mais, porque é fracturante e ser fracturante é coisa de esquerda. Como tudo o que é proposto pela esquerda é idiota, estalinista ou sem sentido, logo... Um verdadeiro argumento sólido! Como é claro, isso de paneleirices é só coisa de pessoal de esquerda.
Por fim, basta-nos dar um salto até à Virgínia e constatar o quão idiota toda esta discussão será dentro de alguns anos.
«Permitir o casamento entre pessoas de raças diferentes significaria necessariamente a degradação do casamento convencional, uma instituição que merece admiração em vez de execração»
«Deus todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e colocou-as em continentes diferentes. E se não tivéssemos interferido com esta disposição nem sequer estaríamos agora a falar de casamento entre pessoas de raças diferentes. O facto de ter separado as raças demonstra bem que Deus não queria que as raças se misturassem».
Sentença proferida por um juiz do Estado norte-americano da Virgínia que em 1967 condenou Mildred e Richard Loving pelo «crime de casamento inter-racial»
«Permitir o casamento entre pessoas de raças diferentes significaria necessariamente a degradação do casamento convencional, uma instituição que merece admiração em vez de execração»
«Deus todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e colocou-as em continentes diferentes. E se não tivéssemos interferido com esta disposição nem sequer estaríamos agora a falar de casamento entre pessoas de raças diferentes. O facto de ter separado as raças demonstra bem que Deus não queria que as raças se misturassem».
Sentença proferida por um juiz do Estado norte-americano da Virgínia que em 1967 condenou Mildred e Richard Loving pelo «crime de casamento inter-racial»
Até lá, e como diria o outro da televisão, façam o favor de ser felizes."
(post publicado a 25 de Outubro de 2008)
14 comentários:
"Até lá, e como diria o outro da televisão, façam o favor de ser felizes"
Brilhante! A previsão da morte de Raul Solnado. Expressa na utilização do tempo verbal "diria" - diria se estivesse vivo.
Azedo, RPS? Não é hábito.
Esta previsão não tem especial mérito porque era a previsão de toda a gente.
Quando o PS não quis votar a lei há um ano ou dois, ficou claro que avançaria com a proposta depois das eleições seguintes.
E era aí já claro que a aprovação era garantida, havendo, como era expectável e veio a verificar-se, maioria de esquerda.
Respondendo à questão, não estou azedo, apesar de ter a opinião da minoria - parlamentar e, presumo, das pessoas "cá fora".
RPS:
Repito que a má disposição te está a toldar a intenção de ter trazido o post de Mr. Lekker. Para que não nos esqueçamos que a vitória de hoje (permite-me estar feliz) não me faz esquecer a jogada política do PS em tudo isto; que esta questão já poderia estar resolvida há mais de um ano e que só por falta de vontade política não o foi.
Não pretendi salientar poderes mediúnicos a Mr. Lekker, como fazes crer e desvalorizas logo de seguida.
Miss WOAB:
Não entendi o alcance do post. Erro meu. Entendi-o como um elogio à capacidade de previsão de Mr. Lekker.
De resto, permita-me ser contra esta lei. E contra ou a favor qualquer outra lei. Senão ver-me-ei na necessidade de fundar um movimento pela defesa dos direitos de ter sobre leis opinião contrária à de Miss WOAB. Será um movimento cívico minoritário mas muito activo - e com um grupo de trabalho LGT na sua estrutura.
Hoje é sem duvida um data relevante para todos os que acham que a luta contra a discriminação deve ser algo importante na vida dos povos , infelizmente acredito que o Presidente da República irá vetar a lei obrigando a mais um adiamento mas o resultado final será esse mesmo , apenas adia o inevitável . Gostaria que se tivesse ido mais além e se contemplasse igualmente a questão da adopção mas concordo que numa sociedade conservadora e ligada à Igreja Católica é desejável que a mudança seja feita por etapas , pois assim ,daqui a um tempo será perceptível que apesar de haver casamento homossexual , as outras pessoas , as ditas normais , podem sempre optar por casar com alguém de sexo oposto , que esta lei não é obrigatória , que até os / as homossexuais podem optar por não casar , resumindo que tudo isto é só uma questão de deixar em aberto qual a opção a tomar e não impor os seus valores a outrem ! Uma nota final a propósito da posição do P.S. neste processo , é verdade que à apenas 6 meses chumbou uma proposta do Bloco que ia no mesmo sentido da de hoje aprovada , com a excepção importante da questão da adopção , mas com um argumento que me parece ser da maior validade , não constava do seu programa eleitoral , agora sim fazia parte do mesmo e hoje foi cumprida essa parte .
RPS (este é o momento em que fazemos as pazes e fazemos juras eternas de amizade, numa cena comovente):
Não precisas fundar movimento nenhum porque não pensas como eu. Tento não ser tão parvinha quanto isso. Só não tinha percebido o ataque a Mr. Lekker e por isso achei que a conjuntura te tinha feito perceber mal a coisa (até porque geralmente bater no PS - Partido Socrático, note-se - é algo que te agrada particularmente.
Caro Gouveia:
Na altura, se bem me recordo, o argumento (velhaco) de que esta era uma questão não prioritário foi evocado, tal como agora muitos o fizeram. Obviamente que é absolutamente demagógico, na medida em que teremos sempre outros problemas económicos, sociais, whatever a resolver. Mas pronto; quando Sócrates apresentou esta bandeira dois meses (ou nem tanto) depois de ter vetado a questão sob estas justificações, se dúvidas tivesse quanto ao seu carácter (que já não tinha) dissiparam-se de vez.
Não fazia parte do programa? Não, não fazia. Mas como é possível concordar com a pertinência de uma proposta que recusamos dois meses antes?
Olá W.O.A.B., não tenho ideia de que o argumento de não ser prioritário a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo tenho sido levantado pelo P.S. , se assim foi de certeza que não foi a principal razão , pois essa foi como já referido no post anterior era a de que não estava no programa e não acho que esse argumento seja tão insignificante quanto dizes , pois muitas pessoas com posições contrarias à medida ontem aprovada vieram dizer que mesmo agora estando no programa eleitoral era apenas uma entre muitas outras medidas propostas , imagino o que não diriam se tal acontecesse na legislatura anterior em que como já referi não fazia parte do programa do P.S. . Já agora ainda à propósito do repetido argumento que a prioridade devida ser dado ao combate à crise e não a estas questões, não deixa de ser contraditório que essas mesmas pessoas, muitas delas ao menos, também exigiam um referendo que custaria uns milhões de euros, talvez sonhando que isso seria a solução para que a crise terminasse em Portugal!
Meu caro amigo:
Sabe porque não considero que fosse argumento plausível? Porque não sendo proposta do Partido Socialista (porque não constava do seu programa) nada os impediria de votar a favor de uma proposta de outro partido político. Se assim o fosse, não fazia sentido que os restantes partidos possam apresentar propostas de lei.
A febre com a hipótese de se referendar apenas constituiu uma manobra de quem aposta num País maioritariamente tacanho.
Tal como o referendo da interrupção voluntária da gravidez era considerado como uma forma de impossibilitar a sua despenalização.
Ainda assim, o referendo no que diz respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo me parece ainda menos legítimo que o primeiro, pelo facto de que da sua aprovação não decorre qualquer alteração relativamente à vida dos portugueses e portuguesas heterossexuais; ou seja, apenas diz respeito aos direitos até agora negados a alguns dos/das nossos/as cidadãos/cidadãs, que em nada prejudica os/as restantes.
Bolas! Comoveu-me, miss WOAB!
Miss WOAB tem o condão de me fazer gostar ler posts sobre gatos e de por a sentir mariquices.
A repulsa (unida) por Sócrates não é uma mariquice, RPS. ;)
Bem de repente dei comigo a pensar no nosso maravilhoso parlamento regional e que ainda bem que por cá o partido maioritário aprova imensas propostas dos partidos de oposição pois se assim não fosse, estes não apresentariam diariamente medidas que depois teriam como destino final o balde do lixo devido á sua contínua rejeição!
p.s. – tudo isto poderá mudar em breve , pois parece que a aprovação da nova Lei de Finanças Regionais será feita com o acordo de P.C.P. e Bloco , o que fará com estes partidos até agora catalogado de comunas passem a ser vistos como aliados o que poderá propiciar que para aí de 3 em 3 meses se aprove uma medida proposta por eles .
p.s. 2 – se a repulsa por Sócrates é d homem tenho de confessar –me pouco macho :)
Ó Jacinto, não leve a brincadeira com o RPS a peito (muito embora seja figura que não me seja grata - mais uma vez refiro que acho que o PS não é PS com Sócrates).
Quanto ao contra-exemplo que apresenta, não invalida o que expus. Em momento algum considerei (ou considerarei) que a actuação do partido da maioria na Assembleia Regional é exemplar. Nem tão pouco legitima o mesmo tipo de (mau) comportamento em qualquer outra parte. Entendo a política como um exercício em prol do bem comum, não como uma prática que se deva reger por interesses partidários, menores, portanto.
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