quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu, forma-tadinha, me confesso

Sento-me em frente do computador. Tenho que avaliar os alunos mediante uma grelha já antes formatada por alguém.

Alguns alunos até mereciam o nível 3 ou 4 (1 a 4), no entanto, por muitos esforços que eu faça, é impossível, eles falharam em alguns pormenores. Eu até dava, mas a grelha é soberana.

Há alguns alunos que, ao longo desde período, arruinaram muitas vezes as aulas devido à falta de valores que insistem em não assimilar. Estes prejudicaram os colegas que até podiam ter ido mais além, no entanto, por muito que eu me esforce, vão ter um nível positivo como recompensa.

Sinto-me frustrada. Neste momento estou a introduzir o meu pensamento, a minha consciência, a minha sensibilidade e a minha experiência profissional numa grelha que desvaloriza o domínio sócio-afectivo. Assim seja. Ámen.

No momento da autoavaliação, tenho alunos a dizerem: “Vá lá, professora, dê-me mais 3 por cento no teste para conseguir o nível três”. Sim, porque a sua postura na aula e na comunidade pouco vale, e isso é do conhecimento global.

Preocupemo-nos em fazer grelhas, pois sem a entrega dessas não há reuniões de avaliação e sem as reuniões, não há férias de Natal.

Eu já tenho uma pasta cujo nome é “grelhados”, nela estão seis grelhas prontinhas a serem entregues. Faço votos que essas contribuam para um mundo melhor.

4 comentários:

AvoGi disse...

chiça já me livrei disse. Graças a Deus.

António Conceição disse...

Estes gajos da educação estão a torrar o país num grelhador.

Lancelot disse...

Belo texto. De rir às gargalhadas.

José Ricardo Costa disse...

Desculpa lá! Na minha escola também anda toda a gente com grelhas mas eu não tenho grelhas nenhumas. Quais grelhas, quais carapuças. Eu ainda sou do tipo lápis na orelha, olho para o aluno, faço umas contas no papel, volto a olhar para o aluno e depois dou a nota que acho que ele merece. É uma espécie de scanner mental graças a 23 anos de experiência. Essa história das grelhas é outras das grandes merdices que têm vindo a infectar as escolas, sendo mais uma manifestação das cabecinhas pensantes dos cientistas da educação que gostam de transformar a educação numa ciência e os professores em engenheiros civis. Puta que os pariu!

JR