sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ai, há coisas que não mudam mesmo!

Frei Francisco da Ilha da Madeira (Século XVIII)
“ A 13 de Setembro de 1690, Frei Mathias de Mattos, sacerdote e pregador professo da Ordem de São Jerónimo, pediu audiência à Mesa do Santo Ofício, desejando confessar-se. Declarou que no princípio da Quaresma daquele ano trava conhecimento com um jovem corista, Frei Francisco da Ilha da Madeira, morador no mesmo convento, no Convento de Belém. Disse que, desejando o jovem o seu apoio a fim de ser enviado a estudar no Colégio, Frei Francisco lhe escrevera algumas cartas «cheias de palavras amorosas». O conteúdo dessas cartas era suficiente para que ambos sofressem o castigo máximo da Inquisição. Sobrevivendo aos séculos, seis cartas foram encontradas na Torre do Tombo, em Lisboa, todas elas escritas por Frei Francisco. (…) Carta Primeira Meu feitiçozinho, meu cãozinho: Esta tarde te vi passar com o irmão de Frei Bento. Bem te vi chegar para a porta da horta onde estávamos, e por uma greta te vi o teu lindo rostinho, e a tua boquinha que lhe desejei dar um beijinho de língua. E de tal sorte me vi estonteado que estive para ir após de ti pela porta fora. De tal sorte me vi embebido, que cheguei a dar passos para o fazer, quando me lembrei que estavam ali coristas. (…) Ai meu menino, que há de ser mim se me falta a tua vista! Que há de ser de mim se logro a tua vista por bocadinhos. Tomara de estar sempre, sempre (te) vendo! Mas, ai que não tenho liberdade para isso, por isso morro, por isso acabo sem que tu me acudas. Ora acode, acode cãozinho, a teu, a teu coraçãozinho, ora acode, sim, sim, sim, ai meu coraçãozinho, dá-me os teus bracinhos porque aí quero morrer.” In Cartas de Amor de Grandes Homens, de Úrsula Doyle, Bertrand Editora, Lisboa, 2009 Pois... segundo Álvaro Campos " As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas."

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