sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Povo saiu à rua num dia assim*

(imagem roubada aqui)

É possível ter saudades do que nunca se viveu?
No que me diz respeito, esta será a época de que mais saudade e inveja tenho. Saudade, porque a sinto também como minha, inveja por nunca ter tido a possibilidade de a viver; a idade da consciência apenas foi marcada pelos relatos de quem lá esteve.
A minha geração já chegou tarde; falamos de boca cheia acerca de tudo o que não conquistamos, acerca do que sempre tivemos, desdenhamos do que foi conseguido ou então simplesmente nem acarinhamos a memória colectiva em relação a estes tempos que nos abriram portas para podermos fazer algo tão simples como isto: escrevinhar sobre o que quisermos.
Da mesma forma que me sinto em dívida para com as feministas que abriram caminho para que me afirmasse como mulher, também me sinto eternamente grata para com aqueles que, a seu tempo, responderam à liberdade num dia assim.

*Título adulterado de Zeca Afonso: o pintor morreu, mas Na curva/Da estrada/Há covas/Feitas no chão//E em todas/Florirão rosas/Duma nação.

2 comentários:

rps disse...

Eu, na época, tinha inveja dos mais velhos por não poder ir à rua quando me apetecesse para ver aquelas confusões.
O meu momento sorte foi ter-se realizado o funeral de um militar abatido numa refrega (presumo que no 25 de Novembro) na Igreja da Serra do Pilar. Inventei um encontro qualquer do "Grupo de Preserverança" - a Cataquese da malta de 11-12 anos - e fui. Vi o Pires Veloso, o Eanes, Mário Soares, o Emídio Guerreiro e mais uma porrada de gente importante, incluindo militares.
Também tinha inveja dos que, por esses tempos, desfizeram sedes do PCP.

Marta disse...

Tão bem dito. Escrito.
beijo, querida WOAB! De partilha!