sábado, 16 de maio de 2009

Difíceis Equilíbrios

Portugal ainda transpira heranças bafientas de um regime que ensinava que só havia uma maneira de uma menina se tornar uma boa mulher e que privilegiava também a masculinidade hegemónica (que ainda hoje perdura de resto). Soube de uma dessas histórias, tantas vezes repetidas, tantas vezes descobertas nos olhares e nos lamentos de homens e de mulheres, e sobretudo das mulheres que se tornaram boas mulheres, cuja a única e exclusiva dedicação foi à família e para a família. A sua única profissão eram os tachos e panelas que areavam com esmero e as fraldas de pano que lavavam nos tanques. Sim, essas mulheres ainda existem. Estão na casa dos 50 e muitos, 60 e 70. E, tal como agora se ouve o lamento das mais jovens que sentem ter perdido o crescimento dos filhos pela dedicação à carreira, entre as mais velhas, ouve-se o lamento da dedicação exclusiva à família. Estranhamente, nunca ouvi um homem lamentar ter perdido a infância do filho, aqueles primeiros anos de vida, o primeiro gatinhar, a primeira palavra....

"A minha mãe fazia parte daquele grupo de pessoas a quem não deixaram ter uma profissão, sabia francês e tocava piano e repetiu-me, até à hora da morte, «por favor, arranja uma profissão, faz qualquer coisa, não fiques submetida a uma família, a um homem, a crianças. Não te preocupes, se estiveres a ler estás a ler e não interrompas. Fazer a cama? Ninguém precisa de uma aula para fazer a cama. Quando precisares, desembrulhas-te e fazes»"
Diana Andringa

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