segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Pompanheira"

(de Magritte)

Estabeleci com aquela mulher adulta/hospedeira querida uma relação simbiótica. Mas, com o tempo, também fiquei adulta, ou seja, da mesma espécie e a simbiose terminou.
Eu queria estar sempre muito perto dela.
Ela dava um passo, eu dava dois ou três para nunca a perder de vista; ela debruçava-se para apanhar qualquer coisa que caía, eu punha-me logo a jeito para um abraço ou para um beijo e quando ela parava, eu levantava os braços, queria logo colo.
Um dia… pediu que me afastasse dela!! Ia lavar umas roupas e podia molhar-me. Pedido recusado. Impossível. Impensável. Insisti ficar muito perto.
Entretanto, foi persistente e eu idem: sacudia-me e eu voltava; virava-me má cara e eu olhava para o chão; dava-me palmadas nas mãos e eu continuava a meter as mãos na água; ia-me sentar e eu agarrava-a, choramingava e dizia repetidamente que queria ir embora.
Passado algum tempo, num tom de voz muito ríspido e, de certa forma, inaudito para mim, ordenou de vez que me afastasse. Muito magoada, afastei-me.
Fiquei desnorteada, sem rumo… o meu mundo ficou destruído. Tinha sido, pela primeira vez, expulsa. Eu só sabia viver muito perto dela. Nem consegui chorar e só solucei.
Ao ver-me tão triste, não aguentou e “regressou” para junto de mim. Explicou-me a razão de me querer afastada naquele momento e eu, ainda revoltada, disse-lhe: “­­Mas eu quero ficar junto de si, porque eu sou a sua Pompanheira!”
Moral da história: em criança tinha jeito para neologismos.

3 comentários:

Anónimo disse...

ehehehe. Obrigada táxi, foi uma boleia bem engraçada.

Woman Once a Bird disse...

E que grande pompanheira devias ser! ;)

A. disse...

E os neologismos fazem sempre falta! :)