No que se refere à paideia das crianças e dos jovens e à educação do povo, é de sublinhar, por um lado, a sua dimensão lúdica e, por outro, a sua realização como aplicação concreta e literal da antiga metáfora de que o mundo é um livro. A Sapiência fez adornar as muralhas externas e internas dos sete círculos com pinturas que representam todas as ciências: a Geologia, a Botânica, a Biologia, a Geografia, as Artes Mecânias, a História, a Religião e a Astrologia. E é assim, lendo o que está escrito ou pintado nos muros, que se aprende, pois, como diz Campanella, "há professores que explicam estas pinturas e habituam as crianças a aprender sem fadiga, quase que a modo de divertimento, todas as ciências, mas com método histórico." Os mestres são anciãos e o ensino feito na infância, a partir do primeiro ano, é um ensino integral e pluridisciplinar em que se cruza a teoria com a prática e em que a aprendizagem é um jogo permanente em todo o espaço: cidade e campo, oficinas e estádios, templos e escolas.
Também aqui muito teríamos a aprender, em tempos de especialização e profunda unidimensionalização do ensino, pois bem melhor é exercida a cidadania quando os cidadãos são cultos e com uma boa formação humanística, para além da respectiva especialização científica, do que quando são incultos, bárbaros e ignorantes (para já não falar dos políticos cuja ignorância, hoje, de tão ostentória, bem pode ser considerada um triste sinal dos nossos tempos...).
" As utopias do Renascimento" in Diálogo intercultural, Utopia e Mestiçagens em Tempos de Globalização, João Maria André , Ariadne Editora, Coimbra, 2oo5
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