terça-feira, 22 de maio de 2007
Desfloramento
Venho das noites escuras
E aprendi a ver nas trevas
e a ler nas trevas.
Venho das noites escuras
e sei o grande soluço das sombras
e os cânticos impotentes dos peregrinos.
Venho das noites escuras
e daí o meu amor imenso pela luz!
E quanto mais treva era a treva
melhor eu aprendia a amar a luz do sol,
e dos meus olhos sempre mais e mais abertos
a luz interior irradiando aniquilava as sombras...
E sendo sempre noite, era cada vez mais manhã.
E cada vez mais enorme e definitiva, a manhã subia,
a-pesar-da treva, a-pesar-do silêncio, a-pesar-de tudo!
E cada vez mais era manhã. E era ainda a noite.
A flor romântica da treva esfolhou-se nos dedos.
E então nasci.
E então vi que estava nu,
E alegrei-me por estar nu,
enfim!
Sorvi os frutos da terra,
e já não me souberam a papel impresso!
Sacudi a poeira do que me tinham ensinado,
e comecei a saber.
Sob as palavras, desvendou-se então a voz,
e a canção ardente da vida já não encontrou algodão
nos meus ouvidos.
Ah! Só quem veio das trevas e das noites escuras
pode amar assim o imenso mundo do sol!
(Adolfo Casais Monteiro)
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1 comentário:
Bem vinda, minha linda. E não olhes para trás! ;)
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