"Não tenho nada contra eles, mas não queria nenhum aqui sentado ao pé de mim, porque sabe-se lá se aquilo pega..."
Frase que ainda rebate na minha mente, mesmo passados 3 dias. Foi-me dita por um aluno de 16 anos, acerca da homossexualidade e a propósito da sua suposta interdição aos candidatos ao sacerdócio. Mas não ficamos por aqui; um outro aluno (mesma aula, mesma turma), que me assegura que não tem qualquer problema em relação a "essas pessoas", considera que a Igreja tem mesmo que impôr limites, porque de outro modo, "qualquer dia admite ladrões lá dentro."
E eu pergunto-me como é possível, ainda hoje, termos gente tão nova com mentes tão envelhecidas. E logo de seguida lembro-me da forma como a maior parte de nós se refere à homossexualidade (e à diferença de géneros, e aos imigrantes...e...e...) e percebo como se perpetuam este género de imbecilidades. Somos todos muito esclarecidos, mas sempre com a certeza que nós não somos assim (e ainda bem); somos todos muito tolerantes, mas fazemos piadinhas, mudamos de passeio, olhamos de soslaio e apontamos o dedo. E depois? E depois, tenho miúdos que verbalizam desta forma aquilo que todos nós implicitamente lhes incutimos.
É claro que eu não me importo que sejam homossexuais, mas longe de mim. É claro que eles têm os mesmos direitos que eu, mas não os quero aqui ao meu lado. E é longe deles que eu continuo com sorrizinho de garoto(a) a dizer/gritar que sou tolerante, mas a contar ao pé do ouvido aquela piada que me contaram a semana passada. E deus me livre se algum dia tiver um filho assim!
É claro que eu não me importo que sejam homossexuais, mas longe de mim. É claro que eles têm os mesmos direitos que eu, mas não os quero aqui ao meu lado. E é longe deles que eu continuo com sorrizinho de garoto(a) a dizer/gritar que sou tolerante, mas a contar ao pé do ouvido aquela piada que me contaram a semana passada. E deus me livre se algum dia tiver um filho assim!
(Imagem de Francis Picabia)
10 comentários:
Talvez nos falte explicar *quem* somos, como queremos a igualdade (nivelando a diversidade), como gritamos pelo direito à diversidade (fugindo da igualdade). Como propomos a sexualidade (consumo? jogo? algo mais?).
Claro que os mais jovens ficam confusos, não tanto com o que dizemos, mas com o que vêem fazer...
Parece-me óbvio que a Igreja Católica impeça a ordenação de homossexuais.
Não percebo porque raio isso indigna tantas pessoas.
E, para lá dessa questão, não é estranho que quem tanto reclama o direito à diferença reclame em simultâneo o direito à igualdade?
Ou será que querem escolher doses de direito à diferença e de direito à igualdade à la carte, de acordo com os gostos?... Será, pois.
Sim, não gosto de rabetas. Sou algo intolerante.
Caro RPS, tem toda a razão. É claro que não esperava outra reacção da Igreja Católica. Tal como foi plenamente previsível a forma como lidou com os escândalos sexuais em que se viu envolvida. E outras tantas situações em que apkicou tão bem a doutrina que prega aos quatro ventos.
De uma instituição cristalizada e enredada em dogmas não se esperaria outra coisa.
Quanto à questão da igualdade e da diferença... Bem, o facto de eu ter os mesmos direitos que o RPS, não implica que eu tenha que ser o que o RPS quer que eu seja, pois não? Ou melhor, que eu tenha que ser uma cópia do que o RPS É, SENTE, diz ou pensa, certo? Então, não percebo o problema relativamente à questão da homossexualidade. Porque não são o MESMO que eu não têm os mesmos direitos?
Achei piada ao "algo" logo a seguir ao "rabetas". (Pre)conceito que, aliás, ainda constitui um completo mistério para mim.
Caríssima Woman Once a Bird, minha boa blogamiga...
Não há só tolerância/intolerância. Há graus.
Conheço uma pessoa que, sempre que se fala de homossexualidade, diz "era esvaziar a ilha do Pico, nos Açores, e obrigar esses maricas todos a ir para lá. Assim, ficavam todos juntos".
Outra pessoa que conheço defende a pura e simples eliminação física dos homossexuais.
O meu grau de intolerância é muito, muito menor. Sou mais de não me querer misturar. Porque uma coisa é insofismável: não encaro a homossexualidade como uma coisa perfeitamente natural. Não sou aquele tipo de pessoa que aceita tudo o que é novo só por ser novo e para me dar ares de arejado e evoluído.
E não reconheço o argumento do direito à diferença como válido para justificar a concessão de determinados direitos a determinadas minorias.
Assim, por exemplo, sou contra o reconhecimento do casamento entre homossexuais.
Porque em nome do direito à diferença posso reclamar tudo. Por exemplo, posso reclamar o direito de casar com duas amigas ou com um casal de amigos. Ou, então, eu e uma mulher com quem case podemos reclamar o direito de casar com outro casal porque somos os quatro muito felizes.
Em nome do direito à diferença posso reclamar o direito de casar com a minha cadela. Ou de andar nú na baixa do Porto. Ou de me masturbar em público.
Como o argumento do direito à diferença serve para tudo, em boa verdade não serve para nada. É inválido.
Porque o comment vai longo, não abordo a questão da Igreja, uma organização que tem... dois mil anos!!! Incrível se pensarmos nisso: como dura uma organização dois mil anos?... Cristalizada não está certamente porque o que está cristalizado está morto e ela está aí activa...
Tem mais uma vez razão quando diz que existem diferentes graus de tolerância.
No meu caso específico "não sou aquele tipo de pessoa que aceita tudo o que é novo só por ser novo e para me dar ares de arejada e evoluída", até porque a homossexualidade não é, de todo, nova. Se admira a Igreja Católica por ter dois mil anos, há-de convir que a homossexualidade vai bem mais longe no tempo... Por outro lado, não percebo porque é que o casamento entre pessoas do mesmo sexo o incomoda tanto. Até porque o casamento vale pelo que vale, é apenas um contrato que, na maior parte dos casos nem é plenamente cumprido por ambas as partes. Aliás, no que diz respeito a relações, ambos sabemos que as coisas nunca são transparentes como um simples contrato entre duas pessoas que juram respeito e fidelidade. E, como sabe, a maior parte não casa efectivamente com duas (dois) amigas (amigos), mas a verdade é que muitos (as) têm-nos... só não consta em letra legível no dito contrato. Portanto, sinceramente, o papel que assinam (ou não), simplesmente não me interessa . Apenas acho que, se faz sentido a alguém pois que o assinem (quer sejam de sexos diferentes, quer do mesmo). É que, sabe, nestas questões do amor, tenho tendência a achar que cada um tem o direito de o viver como bem entende. E que não me compete a mim dizer que está mal e que o devem viver de outra forma.
Caríssima W.O.B.
Neste debate sobre homossexualidade nenhum de nós tem razão. Não se trata de ter razão, trata-se de diferentes modos de encarar a questão. Que é velha, claro, tão velha quanto os humanos. A questão do casamento e outras é que são novas. É óbvio que não se colocavam há 10 anos (não é 100, é mesmo 10. 20, vá lá...).
Por acaso, admiro fortemente a Igreja Católica, independentemente de questões de Fé. Como organização é um coisa notável. E, nos nossos dias, também é notável pelo serviço que directa e indirectamente presta à comunidade. Nem nos apercebemos!
Perdoem-me entrar um bocado na discussão, assim vinda do nada :) Independentemente de qualquer coisa, um homossexual é um cidadão e, como tal, tem, obrigatoriamente, de ter os mesmo direitos que qualquer cidadão. Vivemos de acordo com uma Constituição, que é laica, e não segundo os Evangelhos - assim são os princípios do Estado em que vivemos actualmente. Ora, se um homossexual tem os mesmo deveres porque não pode ter os mesmo direitos? Mesmo que não queira usufruir deles (porque nem toda a gente quer assinar o papelinho e casar-se), eles não lhes devem estar vedados.
A Igreja Católica tem todo o direito de impedir homossexuais de integrar as suas "fileiras", claro. Agora, há muitos e muitos não declarados que entram na mesma. Será que vão inventar uma máquina especial para os identificar à entrada? É que há homossexuais que não têm tiques, não são efeminados, não apontam o dedo mindinho quando falam e não têm a voz fininha.
Ainda outro assunto: falo enquanto homossexual e, no meu caso específico, sou uma mulher perfeitamente normal. Não me atiro a todas as mulheres na rua porque tenho gostos específicos (aliás, não me atiro a nenhumas, sou respeitadora), não almejo deitar-me com as minhas colegas de trabalho, não tenho aspecto masculino, pago impostos e segurança social, sou mulher por inteiro. Em que é que sou diferente de qualquer outra pessoa, por exemplo? Sou menos inteligente? Menos apta a ter filhos? Menos apta a amar? Menos capaz de trabalhar? Não tenho uma doença, nunca a peguei a ninguém..
Tive direito a terminar uma licenciatura, a ser empregada e desempenhar funções como qualquer outra pessoa. Sinceramente, nem sequer percebo porque é que aceitar uma pessoa completamente igual às outras pode ser uma ideia nova.
Conheço "rabetas" e não são todos iguais, assim como não são todos iguais os heterossexuais: há homens decentes e há homens que violam mulheres, que as assediam, que atiram piropos nojentos.
Enfim, li o post e os comentários e resolvi deixar, em parte, a minha contribuição para a discussão.
Em relação à Igreja Católica, não me pronuncio nem contra nem a favor das suas tomadas de posição de política interna. Acho que tem um papel importante na solidariedade e apoio social e pouco mais posso dizer já que contradiz tudo aquilo em que acredito. Mas não posso condená-la nem às pessoas que acreditam nela. Só acho que nunca poderia acreditar em qualquer religião criada pelos homens com base em princípios que nunca foram definidos por nenhuma divindade mas por si mesmos.
Desculpem o testamento.
Muito obrigada pelo teu comentário Isobel. Acho que expuseste muito bem tudo o que tentei dizer por aqui.
RPS, é óbvio que não vamos concordar e não é isso que me move ao responder-lhe. Simplesmente faz-me alguma confusão... que quer, sou esquisita e também tenho as minhas intolerâncias (em maior ou menor grau). Há quem diga que é mau feitio (pergunte ao Lois ou ao Aristóteles).
Uma das coisas que gosto dos blogues é proporcionar discussão, debate. Apesar da limitação do espaço que se verifica. E há temas - como estes - muito vastos para caberem totalmente aqui.
Quando disse ser "algo" intolerante (e dirijo-me tb á Isabel) é no sentido de encarar certas coisas como perfeitamente naturais. Não fiz a apologia de perseguições ou nada similiar.
Quanto ao mau feitio, W.O.B., todos temos :-)
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