(de René Magritte)
"É natural que quem quer "elevar-se" sempre mais, um dia, acabe por ter vertigens. O que são vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradoiro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair. É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos com pavor. (...)Poderia dizer que ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa fraqueza, mas, em vez de resistir-lhe, queremos abandonar-nos a ela. Embriagamo-nos com a nossa própria fraqueza, queremos ficar ainda mais fracos, cair por terra em plena rua à frente de toda a gente, ficar por terra, ainda mais abaixo do que a terra."
Milan Kundera- A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER.
9 comentários:
Exactamente porque é uma fraqueza, é-nos impossível resistir. Resta apenas minimizar o golpe. Move on.
Em vez de ser encarado sob o prisma das fraquezas, porque não pensar nesse caminho do "abismo" como uma das infinitas possibilidades que a cada momento nos surgem e que apenas não temos capacidade/coragem de furar o establishment social e avançar e viver plenamente essas mesmas possibilidades alternativas com alegria e felicidade ?
Porque nos havemos de manter tristemente ao cimo do precipicio, sempre a olhar com desejo de arriscar e de descobrir que "we all have wings but some of us don't know why".
Há um perder a memória de se ter tido asas que me persegue desde a minha meninice.
Pois, mas as asas continuam suas e apenas depende de si voltar a saber usá-las.
e eu... que em pequeno abandonava-me de prédio em prédio... subindo e descendo andares do lado de fora... sem esforço... apenas suave deslizar...
talvez uma das faces da vertigem seja saber que somos de mergulho nas profundezas... e que toda a naturalidade é-nos rapidamente roubada...
que saudades dos sonhos de prédios brancos e estradas longas...
Embora muito goste de Milan Kundera, também não veria a coisa pelo lado da fraqueza, nem pela ideia das asas... antes pelo desejo físico extremo; o extase potenciado em milhões de vezes. Sempre achei que era a forma suprema de cometer suicídio.
Amei este livro, há muitos anos :)
esta citação para mim não tem qualquer sentido conotativo, é mesmo assim que me sinto quando estou com vertigens. tenho vergitens.
digo vertigens
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